
Há uns dois dias, um dos nossos jornais noticiava que o fosso salarial entre Lisboa e o resto do País é cada vez maior. Bom, é um dado que qualquer um de nós pode facilmente perceber, sendo que se trata de uma realidade reconhecida, ano após ano, por cada família que se desloque à sua terra natal, em geral no tempo das férias do verão.
Esta realidade foi por mim tratada, há já uma década e meia, com um primo direito de minha mulher, que se queixava de que Almeida, mormente no respeitante ao interior da praça militar, estava a morrer. Bom, reconheci a realidade que sempre conhecera e se vinha acentuando com o decorrer dos anos.
Salientei, então, ao meu primo, algo de similar ao que vira em Urbino, na Itália, quando ali passei duas semanas no âmbito de um seminário internacional do Instituto de Estudos Avançados da OTAN, ao redor da temática da Programação Matemática: um via, irá chegar aqui um qualquer consórcio italiano, que comprará isto por atacado, operando as mudanças essenciais a um funcionamento turístico adequado, e que mostre qualidade internacional.
O meu primo de pronto garantiu que ele e o irmão nunca venderiam a sua vivenda, que vinha já dos avós e pais. De modo que lá fui teimando em torno da minha ideia, referindo-lhe que, numa tal situação, as autoridades forçariam a venda, para tal deitando mão de impostos muito elevados, a fim de potenciarem o objetivo pretendido. A verdade é que ficou como se tivesse emudecido…
O caso de Almeida, entre tantos outros lugares de Portugal, é bem a prova da incapacidade portuguesa de criar o que até é fácil de conseguir. Eu mesmo, umas três décadas antes, havia apresentado ao meu amigo Tó Sousa, então Presidente da Câmara Municipal de Almeida, uma ideia retirada do que vira, precisamente, em Urbino, a desenvolver na margem direita do Côa, de pronto aceite pelo dono das terras por mim pensadas.
Sem compreender o clima que se levantou em Lisboa, em reuniões de almeidenses, a verdade é que a grande maioria apoiou, incondicionalmente, a minha ideia, mas as designadas grandes famílias de pronto se deitaram a tentar inviabilizá-la. A verdade é que lá fui levando de vencida a minha ideia, até ao dia em que, farto de defender o mais do que lógico, deitei a mesma para a tal minoria que a contestava. O resultado foi simples e mais do que esperado: tudo ficou na mesma, caminhando para pior, com o crescimento imparável da desertificação humana.
Pouco menos de meio século depois, vem agora reconhecer-se o mais que esperado: o fosso salarial entre Lisboa e o resto do País é cada vez maior. Aos poucos, Portugal foi-se paralisando e desertificando, sem que o poder central se determine a enfrentar estas realidades, operando as essenciais modificações destinadas a retirar do território nacional a grande riqueza, de todos os tipos, que nele estão presentes. Faltam boa vontade, visão política e verdadeiro interesse por Portugal. Os políticos vivem em Lisboa, deixam as suas terras, comprando novas residências na capital do País.
Termino, pois, recordando as palavras de Adriano Moreira em sucessivas presenças no Jornal das Nove, na SIC Notícias, com Mário Crespo: Portugal precisou sempre de ajuda desde a fundação da nacionalidade. É caso para que diga ao leitor: pare, olhe, pense e conclua.