
Ninguém pode garantir que José Sócrates fez isto ou aquilo no domínio do processo ora a decorrer. E quem diz hoje José Sócrates, logo poderia ter dito, por exemplo, sobre Miguel Macedo, ou Jarmela Palos, dois concidadãos sobre cuja alegada ação criminal logo se disseram, ao início, cobras e lagartos. E o mesmo se pode dizer de José Castelo Branco e da sua Betty. Invariavelmente, nestes domínios do jornalismo sensacionalista, fala-se sem saber. Preciso, isso sim, é garantir vendas e audiências, como há uns anos, em entrevista de jornal, nos contou Fernando Correia.
Estando atento ao que vai pelo mundo, olhando os noticiários televisivos, de pronto se percebe a fantástica bagunçada em que se constitui o feixe de tentativas para conseguir uma qualquer resposta de alguém, seja de Sócrates, de Marcelo ou de Cavaco, de Fernando Valente ou de qualquer um outro. Uma verdadeira tourada, como usa dizer-se no calão português. E esta é a realidade que se tem podido ver com as tentativas dos jornalistas para ouvirem alguma coisa de José Sócrates.
Sem estranheza, os jornalistas apresentam-se sempre como infalíveis, como usando de completa objetividade, e seja com quem for. Ora, todos nós sabemos que a realidade da ação jornalística é a inversa. Olhemos, por exemplo, o NEGÓCIOS DA SEMANA de ontem. Dentro da melhor tradição de José Gomes Ferreira, Sócrates começou no programa como mau e terminou como péssimo. Foi sempre assim. Neste caso, recordo bem uma entrevista a Paulo Campos, já lá vão muitos anos, em que Gomes Ferreira ocupou mais tempo da entrevista que o próprio entrevistado. Um facto que levou a que no EIXO DO MAL se tivesse dito, no meio da gargalhada, que o entrevistador gostaria muito de se entrevistar a si mesmo.
Infelizmente, José Gomes Ferreira não se determina a convidar José Sócrates, mas para um seu programa em formato especial, com uma duração de cerca de duas horas, mas com a condição de lhe colocar as questões e deixá-lo falar, sem estar constantemente a interrompê-lo. Poderia mesmo – deveria ser assim – combinar-se um tempo limite aceitável para a resposta a cada questão.
É claro que este tipo de programas não tem nunca lugar, como também nunca são realizados tempos de esclarecimento político eleitoral que, de facto, sirvam para aclarar as realidades a serem levadas à prática por cada contendor partidário. Uma realidade de que o Almirante Henrique de Gouveia e Melo se deu já conta, o que o tem levado a evitar conversas e entrevistas de mera confusão, como, de facto, são as do atual jornalismo. Um mau jornalismo, que só consegue gritarias e uma falta cabal de esclarecimento do que possa estar em jogo.
Se os nossos jornalistas pretendessem, de facto, trabalhar bem, bom, bastaria seguirem aquela pista ontem deixada por Fernando Negrão, na entrevista com Gomes Ferreira. Olhemos o que se disse sobre Melancia, sobre o caso do Ministério da Saúde, ao tempo de Beleza e Costa Freire, sobre o caso do sangue contaminado, sobre o do plasma sanguíneo, sobre Miguel Macedo e Jarmela Palos, sobre Dias Loureiro, sobre a nunca existente acusação de corrupção a Isaltino Morais, sobre o avião fretado para ir à Madeira, logo depois com dois autocarros, tudo dando em nada, sobre o caso de terrorismo na Academia de Alcochete, sobre o caso do homicídio de Rosalina Ribeiro, etc., etc., etc., e procuremos tirar um conclusão razoável. Um, (quase) infindo rosário de completas nulidades existenciais. Para já não referir o caso histórico do nosso concidadão Armindo Castro…
Hoje mesmo, e de novo na CNN Portugal, voltou um velho espetáculo, agora sob a intervenção de Pedro Belllo Morais. Como já ontem aconteceu com o Major-General Agostinho Costa, ocorreu hoje com o seu colega Carlos Branco. No lugar de colocar as questões e pedir as respostas, o nosso jornalista voltou a criar mais uma baralhada ao redor do que se dissera sem ter sido dito, como que exigindo uma resposta com que estivesse de acordo!! Ou seja: convida-se alguém especializado em temas militares e político-militares, coloca-se-lhe um tema, e quando a resposta não vai ao encontro do desejado, cria-se uma discussão com o entrevistado, a cuja intervenção até se põe, sem mais, um ponto no diálogo!!!
Assim, para este jornalista, a Federação Russa procedeu mal por ter invadido a Ucrânia, mas já não Israel por o ter feito com a Cisjordânia e com Gaza. Se num ataque russo morrem sete ucranianos, dois deles crianças, tal é um horror. Mas se são assassinados 80 palestinos pelas tropas israelitas quando estão a tentar levantar alimentos, a cada dia que passa, tal não passa de uma notícia, até porque Israel tem o direito de se defender!! Se Putin se intrometeu nas eleições americanas, e isso é inaceitável, o que agora Donald Trump está a fazer aos Sistemas de Justiça de Israel e do Brasil é algo que só merece ser noticiado. É a pândega, caro leitor.
Este meu texto, de facto, vale até muito pouco, mas por esta fortíssima razão: há muito que oiço as piores críticas ao nosso jornalismo, críticas de que fui fugindo durante muitos anos – era a Direita a falar, ainda antes de conseguir a coragem de se mostrar como Extrema-Direita…–, mas a verdade é que se tornou impossível recusar a realidade omnipresente a cada dia que passa. Pois, o julgamento de José Sócrates está a permitir (e de que que modo!) perceber isto mesmo. Como se vê, temos a democracia…