Quinta-feira, Novembro 21, 2024

Ano 115- Nº 4976

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OPINIÃO | Recordando o meu tempo universitário

           Quem se der ao trabalho de consultar o GUIA PARA A UTILIZAÇÃO DO COMPÊNDIO DE MATEMÁTICA, na página 145 do 2º e 3º Volumes, de J. Sebastião e Silva, facilmente depreenderá sobre a razão de ter eu tido a oportunidade, verdadeiramente rara, de ter conhecido um leque de uma dezena de académicos, em geral da Matemática e da Física, e de me ter visto incorporado numa tertúlia, informal e diária, que se desenrolava nas antigas instalações da Livraria Escolar Editora, em Lisboa, muito próximo da Largo do Rato. Objetivamente, era o jovem aluno no meio dos catedráticos.

Como acontecia com a esmagadora maioria dos jovens do meu tempo, eu era também do contra. Falava abertamente, apontava os erros sem limites ou medo, e era assaz palavroso, dominando as ideias e as (aparentes) soluções. Aliás, estas caraterísticas vinham já do meu tempo de liceu. Todavia, dispunha de consciência, que, para meu azar, sucumbiu à força do seu estigma. E depois, era um rapaz sério, intimamente justo, sempre pronto a ajudar quem precisasse de préstimos de que eu dispusesse, o que raramente encontrava reciprocidade.

Na tal tertúlia, eu era verdadeiramente a mascote, sendo disputado entre dois académicos que vieram a tornar-se muito meus amigos, um da Opus Dei, numerário, outro da Maçonaria. E deste, aí por maio do meu 3º Ano, cheguei a ouvir, junto a um escaparate, muito a sós, estas palavras: oiça, o Hélio agora vai lá para o Técnico, termina lá o seu curso, e depois vem para aqui e faz cá a sua carreira. Quase fiquei nas nuvens, ao ouvir estas palavras vindas do Professor Tiago de Oliveira.

Um mês depois, já em plena época de exames, não aguentando mais, explodi, em face de uma comparação que estava ali a ser feita entre Gonçalves de Proença e Salgado Zenha, nos seus tempos de Coimbra: o primeiro, do CADC, fraquíssimo; o segundo, do MUD, uma sumidade. E então, furioso, gritando para os grupo, deixei sair: pois é, isso de ser de Esquerda é fácil, é estar aqui a dizer mal deste e daquele, mas ser do Governo é ter de resolver os problemas da malta! E se a minha voz até se poderia ter ouvido na rua, o que depois sobreveio no seio da tertúlia foi o silêncio, com todos a entreolharem-se. Apenas Tiago de Oliveira, pedagógica e humanamente sorridente, retomou a palavra, dizendo, sensivelmente, estas palavras: eu compreendo o Hélio, eu compreendo bem a reação dele.

Conto esta história porque o tempo que vivemos hoje é rigorosamente simétrico daquele antes descrito. Hoje, são a Direita e a Extrema-Direita, sedentas de poder, que de tudo deitam mão para tentar pôr o Governo de António Costa em causa. E se é verdade que vivemos um tempo de enorme gravidade, por via da pandemia que é mundial – a China liquidou-a, mas foi uma liquidação comunista, pelo que temos que, não mentindo, manter o silêncio…–, também o é que os portugueses poderão voltar a correr os riscos que sempre estiveram presentes na História de Portugal. Uma realidade sobre que vale a pena recordar as palavras de Adriano Moreira, repetidas à saciedade: Portugal precisou sempre de ajuda.

Uma das marcas da ação atual da Direita e da Extrema-Direita é o alarmismo, e outras são a mentira, a calúnia e a difamação. Alarma-se noticiário após noticiário, ao redor de um acontecimento que, no fundo, até os especialistas estão longe de dominar. Em todo o caso, a Direita e a Extrema-Direita lá se vão determinando a alarmar ao ritmo dos noticiários.

Mas vai-se mais longe, porque também se mente. Precisamente o caso da saída do Conselheiro Vítor Caldeira, substituído por José Tavares. E o cume consegue ser atingido com este máximo absoluto: o Presidente da República apoiou a mudança, tal como o Primeiro-Ministro e o líder do PSD, mas todos erraram, com as notáveis exceções do aldrabões da política, que logo surgem nas televisões a pôr em causa três órgãos de soberania. E sabe o leitor o que dirão hoje Salazar, Caetano, Cunhal e Soares ente si? Pois, qualquer coisa deste tipo: António, você talvez tivesse tido razão cedo demais, e sabendo mesmo os aldrabões que eram os que lhe davam vivas em vida, logo dando morras ao seu regime na Revolução de Abril. Precisamente boa parte dos que estão hoje no PSD e nos partidos à sua direita.

A Direita e a Extrema-Direita de hoje atuam, precisamente, como aqueles académicos da tertúlia de que também eu era membro, embora apenas aluno. Criticam tudo e umas botas mais, sofrem com a ausência de poder, pensam no dinheiro que estará para chegar, e voltam a sofrer ao perceberem a tamanha oportunidade que poderão vir a perder. E nunca esqueceram o que foi o venha-a-mim com os primeiros dinheiros europeus aqui chegados, de que sempre se disse terem sido delapidados em quase metade. Um verdadeiro drama…

Esta rapaziada, a cada dia, reza para que Trump, O Bronco, continue na Casa Branca, na esperança do nascimento da ditadura mundial sob o comando daquele, hoje com uma classe, pessoal e social, universalmente reconhecida… Há muito transformaram Francisco Sá Carneiro num verdadeiro político supremo, concidadão sem igual, mas nem um segundo, ou uma linha, lhe dedicam ao redor do que Alexandre Patrício Gouveia agora nos expôs na sua obra, OS MANDANTES DO ATENTADO DE CAMARATE, procedendo como Judas para com Jesus. São estes nossos políticos, ou aprendizes de políticos, que hoje desdenham do trabalho dos Governos de António Costa. Vem por aí muito dinheirinho, pelo que, para a Direita e a Extrema-Direita, é agora ou nunca… É caso para que digamos: Deus nos proteja!

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