O Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças (ECDC) admite novos confinamentos na Europa devido ao aumento do número de casos de covid-19 após as festividades de final de ano, defendendo que “quanto mais rapidamente avançarem, melhor”.
“Quando se fala em confinamento, na junção das medidas restritivas, está-se basicamente a paralisar a sociedade […] para conseguir que os números baixem. […] Somos a favor de existirem restrições claras para reduzir o contacto entre as pessoas, independentemente da forma que assumem”, afirma o especialista principal do ECDC para o novo coronavírus e gripe, Pasi Penttinen, em entrevista à agência Lusa.
Numa altura em que Portugal equaciona voltar a um confinamento semelhante ao adotado em abril e maio do ano passado para conter a propagação da covid-19 no país, que atinge novos recordes, o especialista vinca que “todas as medidas que reduzem os contactos entre as pessoas, especialmente em locais movimentados e no interior, são eficazes contra este vírus”.
“E quanto mais cedo estas medidas forem adotadas, melhor é”, afirma Pasi Penttinen, embora apontando que cabe a cada país europeu avaliar o “quão apertadas deverão ser”.
Num relatório publicado no início de dezembro passado, o ECDC alertou para os “riscos adicionais significativos” das festividades de fim de ano, como o Natal, notando que o aumento das infeções de covid-19 seria “muito provável” nesta época.
Na altura, a agência europeia vincou que relaxar as medidas restritivas “demasiado cedo resultaria num aumento de casos e hospitalizações e isto seria particularmente rápido se as medidas fossem levantadas abruptamente”.
Apesar de salientar que “ainda é muito cedo” para avaliar o impacto das festividades na transmissão, Pasi Penttinen diz à Lusa que os países que nessa época festiva mantiveram as restrições estão a registar o “efeito das difíceis e apertadas medidas”, enquanto outros registam aumentos acentuados no número de novas infeções, hospitalizações e mortes.
Portugal, um dos países europeus com medidas mais leves durante as festividades, inclui-se neste último grupo, ao ter registado nos últimos dias números máximos diários de mortes (122) e de casos confirmados (10.176).
“Quando esse tipo de restrições é adotado, normalmente só existe uma tendência de redução após duas semanas, é isso que tem acontecido”, acrescenta o responsável, explicando que os aumentos também só surgem duas semanas após o relaxamento das medidas.
Ainda assim, Pasi Penttinen admite que alguns números possam resultar de questões como atrasos na notificação por parte dos laboratórios, dificuldades no acesso aos testes de diagnóstico e ainda o impacto do inverno.
“O que dissemos antes do Natal foi bastante claro, que […] as medidas restritivas seriam importantes para assegurar que a transmissão não se tornaria ainda mais ativa nestes países e, especialmente, para proteger os sistemas de saúde porque sabemos que no inverno normal, com a gripe, podem registar-se situações de pressão nas urgências e nos cuidados intensivos, por isso esta [a pandemia] é uma razão adicional”, aponta o especialista principal do ECDC.
Nos últimos meses, a agência europeia tem vindo a recomendar medidas mais direcionadas em vez de confinamentos mais generalizados, mas admite agora medidas mais apertadas.
“Em muitos países [europeus], este tipo de abordagem não foi bem-sucedida e, infelizmente, muito frequentemente é preciso apertar estas medidas, passo a passo, até haver impacto na transmissão”, adianta o responsável.
Já quanto à duração do confinamento, “quanto mais tempo, melhor”, conclui Pasi Penttinen.
Sediado na Suécia, o ECDC tem como missão ajudar os países europeus a dar resposta a surtos de doenças.