Só hoje consegui dispor de algum tempo para poder comentar, ainda que de um modo breve, a recente entrevista de Augusto Santos Silva Jornal da RTP 2. Foi uma entrevista sem grande história, exceto por via da barulheira logo operada pela grande comunicação social ao redor da resposta dada pelo entrevistado, ou seja, a de que não poderia nunca negar, em absoluto, que seria, um dia, candidato ao Presidente da República.
Esta sua resposta, como pôde ver-se, incorporou uma expressão que havia sido utilizada pelo entrevistador, isto é, a da negação em absoluto. Simplesmente, isto não significa que o entrevistado tenha dito que aceitaria uma tal candidatura, apenas que ninguém pode nunca dizer que de certa água não beberá. No fundo, o que o Presidente da Assembleia da República fez foi responder com a evidência das coisas. Um pouco como se dá com os testes de hipóteses, no domínio da Inferência Estatística, quando se enuncia a designada Hipótese Nula.
Sedentas de temas que justifiquem a captura da atenção dos telespectadores, de pronto as televisões se deitaram a dizer que Augusto Santos Silva aceitava que poderia vir a concorrer ao Presidente da República no próximo ato eleitoral, quando o que foi respondido foi que tal hipótese nunca poderia ser negada, muito menos em absoluto.
De tudo isto podem retirar-se duas conclusões. Por um lado, que a política portuguesa, muito por via da intervenção da grande comunicação social – tem sido um verdadeiro cancro para a nossa democracia –, vive de autênticas frivolidades, dado que, ao menos, a decisão em causa se encontra ainda fora de toda a lógica decisória. Por outro lado, porque se transforma uma resposta lógica, quase lapaliciana, numa resposta afirmativa em face do desejo do entrevistador e dos posteriores comentadores. É mais uma manifestação da dita democracia à portuguesa, muito ao estilo do histórico empate técnico entre PS e PSD nas sondagens anteriores às recentes eleições para deputados à Assembleia da República.