Terça-feira, Dezembro 3, 2024

Ano 115- Nº 4979

publicidadepublicidade
InícioVALE DO LIMAPONTE DE LIMAUm rio de esquecimento e a “Limianidade” que nos une

Um rio de esquecimento e a “Limianidade” que nos une

NOTA: Texto proferido na intervenção de Avelino Castro, director do Jornal Cardeal Saraiva, na Assembleia Municipal de Ponte de Lima, no período de “antes da ordem do dia”, a qual se realizou sábado, dia 17 de Dezembro de 2022.

 

Bom dia a todos os presentes.

Desculpem desde já a ausência dos formalismos habituais nestas circunstâncias, mas assumo que sou um pouco avesso a formalismos, por isso vamos ao que interessa.

Todos sabemos que as pessoas evoluem no seu percurso de vida. É a lei da vida a funcionar.

No meu caso, na minha juventude, acreditava mais em silêncios do que em palavras.

Depois percebi que era obrigatório dizer as coisas, usar as palavras, para evitar as dúvidas.

Mais tarde, aprendi com um idoso que não bastava só dizer. Era preciso fazer mais.

Segundo ele era necessário dizer a mesma coisa três vezes: a primeira para ser dita; a segunda para confirmar que o nosso interlocutor ouviu e a terceira para não restar dúvidas daquilo que foi dito.

O velho era chato, muito chato mesmo, mas carregado de razão.

Por isso, senhor presidente da Câmara Municipal de Ponte de Lima Vasco Ferraz, já usei estas três “modalidades”:

Já fiquei em silêncio; já falei o que tinha a falar; e já repeti três vezes a mesma mensagem. Aliás muito mais do que três vezes.

Recordo, e torno aqui público, que após a eleição do actual executivo municipal enviei, em Novembro de 2021, um email ao senhor presidente da Câmara Municipal de Ponte de Lima (CMPL) para que, em nome do jornal Cardeal Saraiva, fosse possível agendar uma reunião.

Este pedido foi reformulado por mais quatro vezes e até hoje não obtive resposta a esta minha solicitação

Entretanto, entre outros afazeres, o senhor presidente teve tempo, por exemplo, para reunir com representantes de bares para falar de esplanadas.

Em Junho último, ao cruzar-me na rua com Vasco Ferraz questionei-o pessoalmente sobre qual seria a data dessa reunião e o senhor presidente apontou uma data algures em Agosto. Nessa altura informei-o que havia urgência nessa reunião, pelo que sugeri fazer uma breve abordagem ao tema ali mesmo.

Acedeu. Informei-o, então, da minha disponibilidade para se avançar com um Museu da Imprensa em Ponte de Lima, conforme já havia sido sugerido nesta assembleia.

Dei a conhecer a ideia que tinha para esse museu, a qual assentaria no conceito de um museu vivo, com as máquinas a imprimir e mostrando diferentes tipos de impressão. Seria uma oportunidade para o público em geral, mas também para receber visitas da comunidade escolar.

Informei Vasco Ferraz que o jornal tinha máquinas que poderiam integrar esse museu, mas que era urgente a sua remoção do local onde estavam.

Ficou no ar a possibilidade de a CMPL arranjar um local para albergar as máquinas, sendo que até hoje não houve qualquer desenvolvimento. É certo que foi só uma hipótese, e não certezas, mas o certo é que até hoje não houve uma palavra.

Não havendo resposta por parte da CMPL as máquinas acabaram por seguir para uma sucata, sendo que assim se perdeu uma “peça do puzzle” deste património.

Apesar deste facto, julgo que o Museu poderá ter pernas para andar, assim haja vontade de quem tem que decidir.

Aqui chegado resta-me acrescentar que é lamentável ter que recorrer a esta assembleia para ser ouvido.

O jornal Cardeal Saraiva é um património limiano e pertence a um número muito restrito de jornais centenários em Portugal, pelo que deveria ser motivo de orgulho para Ponte de Lima e para quem está a dirigir este município.

Ao invés disso, o que este jornal tem recebido por parte da Câmara Municipal de Ponte de Lima é um enorme desprezo, sendo que o município não só não respondeu aos referidos pedidos de reunião, como nunca respondeu a mais de oito solicitações enviadas para que a CMPL ocupasse espaços publicitários no jornal.

Não houve resposta para edições especiais, nem para contratos mais alargados de publicidade. Foram várias as sugestões enviadas à CMPL, as quais nunca tiveram resposta da parte do município.

Mesmo a realização desta assembleia obriga à publicação de edital nos jornais, pelo que, em bom tempo, enviamos informação reforçando que estavamos disponiveis para fazer essa divulgação, mas, uma vez mais, não houve resposta.

Por isso há um ano que este jornal envia propostas de publicidade, pedidos de reunião e até pedidos de informação para realização de notícias que ficam sempre sem resposta.

Com o objectivo de elaborar notícias, e não tendo sido possível obter informação por outro meio, endereçamos há cerca de 20 dias um conjunto de questões à CMPL às quais também não obtivemos resposta.

Nessa mesma altura solicitei à CMPL o favor de me fornecer os contactos de presidentes de junta do concelho para serem usados na obtenção de informação para elaboração de notícias.

A resposta também ainda não chegou, mas recordo que há já alguns anos solicitei o mesmo e, na altura, responderam-me que, por questões de confidencialidade, tal não era possível.

Entretanto, verifiquei há dias que a Câmara Municipal de Valença tem os contactos de todos os presidentes de Junta no site da câmara, o que deita por terra a tal confidencialidade.

No que diz respeito ao jornal Cardeal Saraiva, recordo que assumi responsabilidades neste jornal em 1991, altura em que informatizamos a nossa redação:

Desde sempre a pluralidade e isenção foram regra neste jornal, facto que muitas vezes o poder político não sabe ou não quer entender.

Recordo, por isso, o tempo da presidência de Vitor Mendes.

Desde essa altura que a Câmara tem uma fatura em débito no valor de mais de 8000 euros, fatura essa que se refere a publicidade solicitada e executada.

Enquanto declinava este pagamento e recusava colocar publicidade no Cardeal Saraiva, a câmara limiana fazia adjudicações chorudas a outro órgão de comunicação social local.

Façamos só uma breve abordagem à questão. Numa consulta rápida ao PORTAL BASE verifica-se que desde 2017 a Câmara Municipal de Ponte de Lima, por ajuste direto e outros, adjudicou ao Jornal Alto Minho os seguintes valores:

6.600 eur (23/12/2017)  – 6.628 eur (22/3/2019) –  29.930,20 eur (16/9/2019)  – 29.930,20 eur – (2/4/2020)  – 6.400 eur (20/7/2020) – 55.000 eur (26/3/2021) – 45.100 eur (29/3/2022).

Trago hoje a esta assembleia este exemplo, não porque não saiba conviver com a concorrência – com esta ou outra qualquer –, mas porque não aceito a discriminação a que este jornal está sujeito por parte da edilidade limiana.

Mais: acho que esta postura da Câmara tem demostrado uma falta de respeito enorme pelo jornal Cardeal Saraiva, um órgão de comunicação social que muito contribuiu para o desenvolvimento de Ponte de Lima através dos tempos.

Nasci em Ponte de Lima e vivi os meus primeiros anos de vida no centro histórico da vila. Da minha janela via-se o Rio Lima e, só por isso, tantas vezes me senti um privilegiado.

Hoje sei que os privilegiados são outros. Não são medidos pelo encanto desta terra e, muitas vezes, nem pelos valores que representam.

Antes pelo contrário, são muitas vezes movidos por sábias manobras de influências e interesses, que se misturam com subserviência e até narcisismo. Situações para as quais o jornal que eu dirijo nunca se mostrou disponível.

O Portugal que hoje temos é ainda um testemunho feudal, que, a cada momento, se esbarra connosco no caminho.

Pela minha parte, acreditei que o regresso de um limiano de gema à presidência da câmara trouxesse novos ventos.

Acreditei que também ele poderia ter olhado um dia para o rio Lima e se tivesse sentido privilegiado e, por isso, percebesse, melhor do que ninguém, o “fado” desta terra.

Hoje e aqui, não irei repetir  três vezes o que digo – tal como sugeria o velho meu amigo – mas, na pessoa do senhor presidente da Câmara Municipal de Ponte de Lima, deixo o repto de que venham melhores dias de comunicação para bem da LIMIANIDADE que nos une.

Avelino Castro – Director

 

 

Artigos Relacionados
PUB

Mais Popular

Comentários Recentes