Causaram uma tremenda retumbância as verdadeiras e objetivas palavras do Presidente Lula a propósito do apoio dos Estados Unidos, da União Europeia e da OTAN à continuação da grande batalha da Ucrânia. Foi, indubitavelmente, uma brutal pedrada no charco da hipocrisia com que a grande comunicação social, tal como a classe política ocidental, vêm tratando, qual pensamento único, o que se passa hoje na Ucrânia.
A entrevista de ontem, concedida à RTP na pessoa de Paulo Dentinho, mostrou isto mesmo, muito em especial quando o jornalista chamou a atenção do Presidente para o facto de que o caso da violação do Direito Internacional Público por parte dos Estados Unidos no Iraque não pode servir de justificação para o mais recente da Federação Russa na Ucrânia. Simplesmente, os nossos jornalistas parecem sofrer de falta de visão à direita, porque só se lembram de criticar hora a hora quando quem viola é a Rússia, a China, o Irão, Cuba, a Nicarágua, etc., mas nunca os Estados Unidos ou o Reino Unido.
Infelizmente, Paulo Dentinho foi ainda mais longe quando perguntou ao Presidente Lula se reconhecia Direitos Universais! Será que Paulo Dentinho se referia à pena de morte, à separação de famílias, à discriminação racial, à ausência de direitos de acesso a cuidados de saúde, ao poder, quase ilimitado, da polícia, a prisões sem culpa formada e sem acesso a defesa ao longo de décadas, como se tem dado com Guantánamo, etc.?
Simplesmente, o entrevistador teve ainda a lata de apresentar a ausência de uma maioria parlamentar como um obstáculo à presidência de Lula, sem procurar compreender que a ausência de maiorias absolutas é a regra no espaço da União Europeia.
Por fim, percebemos, graças à atitude de Paulo Dentinho nesta entrevista ao Presidente Lula da Silva, que para este nosso concidadão os males do mundo estão, afinal, na Federação Russa e na China, não em Israel, ou no Reino Unido, ou em França, ou no Ocidente em geral. Fica a sensação de que Paulo Dentinho não terá ainda percebido que o Mundo que hoje temos é o resultado da ação dos povos europeus por todo o lado a que chegaram por via dos Descobrimentos. E por isso eu compreendi muitíssimo bem as palavras de Carlos Fino sobre o modo como Portugal é visto lá pelo Brasil. No fundo, é o que nos expôs um antigo Procurador-Geral da República Federativa do Brasil, há já uns anos: a corrupção e o estado em que o Brasil se encontra são a herança da ação de Portugal desde que aqui chegou.
Quanto à entrevista do Presidente Luís Inácio Lula da Silva, para lá de ter sido muito clara, esclarecedora e direta, tem de ser olhada de duas maneiras: pelo modo de ver a realidade do Presidente, e pela necessidade de, mais uma vez, ter de ter em conta a ditadura mundial imposta a amplas partes do Mundo pelos Estados Unidos…
