Disse um dia Salazar que governar é, acima de tudo, descontentar. Tinha, como se sabe há muito, a mais cabal razão, apesar de uma imensidão de concidadãos nossos continuarem a imaginar que a prática da democracia – a nossa ou qualquer outra – confere algum tipo de poder da população, deste modo condicionando a governação a seguir o melhor para si mesma e para o País, se as duas situações realmente coincidissem.
Fruto de uma enorme dose de bom senso, os portugueses lá se determinaram a escolher a atual maioria absoluta do PS, situação que, não concedendo, de imediato, o êxito com que muitos terão sonhado, evitou lançar os portugueses no caminho de um acréscimo de pobreza e de instabilidade social em nome da defesa de um futuro melhor para as futuras gerações… Simplesmente, com ou sem maioria absoluta, lá continua válida a tal chamada de atenção de Salazar: governar é, acima de tudo, descontentar.
Claro está que uma boa imensidão de portugueses nem sequer se determina a olhar uma tal realidade evidente, apenas pensando em si mesma, e crendo, até, que existirá, afinal, um caminho que se poderá materializar na solução ótima (sonhada). De modo coerente, em maior ou menor grau, sucedem-se os protestos e as greves, sem que os que assim atuam consigam perceber que a Direita, tal como a Extrema-Direita – no fundo, a oposição, hoje liderada pelo Presidente Marcelo Rebelo de Sousa, como muito bem referiu Ana Gomes –, para lá de não dizerem ao que vêm, apenas protestando e cavalgando a onda (natural e sempre existente) de descontentamento, fariam ainda pior que o que se tem vindo a ver.
Do mesmo modo, uma enorme parte dos desagradados com a atual governação também não vislumbra estas duas realidades: está-se a cavar o caminho da destruição total do Estado Social, por muitos defeitos que apresente, e decorre já uma luta surda pelo poder no seio do PS, pensando no tempo posterior a uma saída de António Costa da governação. Uma luta logo apoiada, no mínimo, pelos convites a militantes do PS para executarem comentário político nos canais televisivos. E, como teria de dar-se com uma comunicação social fortemente alinhada à Direita, os escolhidos são concidadãos que, para lá de algum saber, naturalmente variável, não possuem grande brilho oratório, ou criticam sempre o próprio PS, e sempre sem dizerem ao que vêm, tal como com a Direita.
Ora, no passado fim-de-semana surgiu a notícia em certo semanário de que Sérgio Sousa Pinto, Francisco Assis, Seguro e Álvaro Beleza e Paulo Pedroso, certamente com outros militantes do PS, estarão a organizar uma potencial alternativa à liderança de António Costa, mas obviamente bem mais à direita. Simplesmente, se Seguro desapareceu depois de perder, Álvaro Beleza vê-se completamente esmagado por Miguel Relvas, com Sérgio a dissertar intelectualidades profundas, mas completamente inoperantes, e Assis a discorrer como desde sempre se lhe pôde ver, invariavelmente bem próximo das históricas posições de Passos e Portas, e onde pontificou aquela fantástica previsão de que, com a Geringonça, o PS esfumar-se-ia…
Custa-me entender que alguém, militante do PS, possa imaginar que uma tal alternativa não conduza a um suicídio político para o PS. De modo naturalmente concomitante, os nossos jornalistas nunca questionam estes militantes do PS sobre como seriam as suas reformas estruturais, mormente nos essencialíssimos domínios da Saúde, Segurança Social, Educação, Habitação, etc.. No fundo, é como há muito tenho explicado: temos democracia, mas não temos futuro, faltando a quase toda a classe política a essencial clareza e o cumprimento de medidas fundamentais para as pessoas e o País.
Termino, pois, com esta pergunta simples: será que haverá por aí, no meio de tanto descontentamento, quem se deixe embarrilar por conversas fáceis, mas completamente despidas de conteúdo? E já agora: cuidado com as sondagens, sendo conveniente recordar o tal empate técnico que mil e um garantiam como acontecimento quase-certo nas anteriores eleições…
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