Sábado, Outubro 18, 2025
publicidadepublicidade
InícioOPINIÃOLEGALIDADE E OPORTUNIDADE VIRÁ AÍ A ARBITRARIEDADE EM PROCESSO PENAL?

LEGALIDADE E OPORTUNIDADE VIRÁ AÍ A ARBITRARIEDADE EM PROCESSO PENAL?

Relógio Progressivo
O JORNAL CARDEAL SARAIVA AGUARDA REUNIÃO COM O PRESIDENTE DA CÂMARA MUNICIPAL DE PONTE DE LIMA

00 Dias 00 Horas 00 Minutos 00 Segundos

Na noite de ontem, creio que na RTP 3, já pelo final da sua intervenção, foi possível escutar do causídico Manuel Magalhães e Silva a notícia de que, com mui elevada probabilidade, deverá, num tempo mais ou menos próximo, surgir por aí a substituição do princípio da legalidade pelo da oportunidade em Processo Penal. Bom, fiquei deveras preocupado. E é sobre esta questão que irei agora escrever alguns comentários.

Até hoje, o nosso Processo Penal estipula que o Ministério Público, sempre que toma conhecimento de algum crime passível de ter sido cometido, deverá abrir um processo de investigação. É, dentro do que sei, a observância do princípio da legalidade.

Em contrapartida, se passar a vigorar o princípio da oportunidade, caberá ao Ministério Público decidir do grau de importância dos temas, optando por investigar uns e deixar outros para trás. Bom, trata-se de um terrível risco para o (já baixo) valor da imagem da Justiça em Portugal. E não vale a pena apontar outros Estados onde vigore este princípio, porque nós somos portugueses e temos, por esta razão, caraterísticas que são só nossas.

Com o princípio da legalidade em vigor, como se dá hoje entre nós, todos os casos são sempre tratados, garantindo-se, por este modo, uma forte dose de igualdade dos portugueses perante a intervenção do Sistema de Justiça. Ao contrário, se passar a vigorar o princípio da oportunidade, passa o Ministério Público a decidir sobre quais são as investigações com maior grau de oportunidade. Bom, é simples conjeturar o que ir á dar-se por esta via.

Num ápice, não sendo computadores, os procuradores passam a considerar oportunas as investigações política e partidariamente mais convenientes. É, indubitavelmente, o modo português de estar na vida. Um modo de estar que já levou o Ministro da Educação, Fernando Alexandre, a começar a tratar o caso de se pôr um travão no surgimento de famílias inteiras que fazem carreira académica em certa faculdade, começando no avô e chegando aos netos, porventura aos bisnetos. Convém sempre ter em conta esta realidade: estamos em Portugal…

Por fim, uma outra triste ideia, mas no domínio da Medicina. Há uns mui bons anos, foi Bastonário da Ordem dos Médicos, o académico Germano de Sousa. Pleno de espanto, eis que dele recebi, um dia, esta ideia: o acesso a Medicina deve ser feito pela análise do perfil, e não por via de exames nacionais e no Secundário!!

Nós estamos em Portugal, e logo se percebeu que qualquer filho burro de alguém poderoso no tecido social passaria a dispor do tal perfil, correndo-se o risco de que um jovem inteligente e promissor, mas filho de campónios, de pronto fosse tomado como não tendo o tal perfil. A verdade é que um académico, que era, até, Bastonário da Ordem dos Médicos, conseguiu defender esta inenarrável ideia! Uma média de 10 valores ao longo do Básico e do Secundário nunca viria a impedir o acesso a Medicina, assim o apaniguado fosse percebido como possuindo o tal bom perfil!!! Já o tal jovem filho de campónios, mas com 20 valores ao longo de todo o ensino não superior, bem poderia não prosseguir em Medicina, por, apontadamente, não dispor do tal perfil.

É indubitável que o Sistema de Justiça está hoje muitíssimo mal, com especial relevo para a imagem do Ministério Público. Um dado, porém, é certo: se vier a ser adotado o princípio da oportunidade, aquele sistema irá de mal para muito pior, para mais acompanhado da inevitável desconfiança da generalidade dos portugueses. Portanto, muita atenção: nós somos portugueses e temos caraterísticas que são só nossas e há muito conhecidíssimas…

 

Artigos Relacionados
PUB

Mais Popular

Comentários Recentes