Há pouco mais de uma semana, Pedro Adão e Silva surgiu com uma ideia que logo tipifiquei como genial: se o PSD fosse o partido mais votado, mas a Direita só conseguisse construir uma maioria com os votos do Chega! o PS teria o imperativo patriótico de suportar o referido Governo da Direita, a fim de o não deixar refém dos votos do Chega!. Bom, desatei a rir, tal é a falácia deste raciocínio. Portanto, olhemos o tema com um mínimo de atenção, deitando também mão da conjetura.
Em primeiro lugar, o mais provável é vir a ser o PS o partido mais votado, uma vez que, não sendo um partido da Esquerda, nem propriamente do socialismo – é, isso sim, do que Mário Soares designou de socialismo democrático, e que não é nada –, o que os portugueses deverão continuar a preferir será uma nova Geringonça, dado que os resultados desta construção trouxeram coisas muito boas à generalidade dos portugueses, embora pudesse tal estrutura ter feito bem mais e melhor. E a principal culpa desta falta de mais e melhores resultados foi, indiscutivelmente, do PS.
Em segundo lugar, uma maioria de Direita, mesmo que só com o Chega!, trará sempre mais do mesmo do tempo do terno de má memória, Cavaco-Passos-Portas. Seria, como desde há décadas a Direita nos mostrou, a completa ruína do Estado Social: o fim do enfraquecido Serviço Nacional de Saúde, essencialmente causado pela ação do PS, a destruição da Segurança Social Pública e o fim do Sistema Público de Educação. Só um teimoso, ou um adepto da Direita e da Extrema-Direita, ou alguém desinteressado da vida pública poderá pensar o contrário.
Em terceiro lugar, esta (genial…) ideia de Pedro Adão e Silva levaria a coisas deste tipo: medidas completamente contrárias aos fundamentos políticos do PS, apresentadas pelo PSD, teriam de ser por aquele aprovadas, a fim de evitar que o pudessem ser com os votos do Chega!! Ou seja: deixaria de valer o conteúdo das matérias, secundarizado pela aparência de um isolamento do Chega!.
E, em quarto lugar, esta ideia (genial…) de Pedro Adão e Silva coloca completamente de lado o que se conhece do PSD desde o seu nascimento: precise o PSD dos votos do Chega!, e nem por um minuto hesitará na decisão. De resto, André Ventura veio do PSD, e até concorreu à liderança da autarquia de Loures, com o apoio presencial de Pedro Passos Coelho. Portanto, mais palavras para quê?!
Espero, pois, que os portugueses tenham em atenção a situação política do País e o que os pode esperar no futuro com um Governo da Direita e da Extrema-Direita, para mais a ser amparado pelo PS se necessário. Será que a experiência do terno político Cavaco-Passos-Portas ainda não chegou para que os portugueses consigam compreender os riscos de uma Maioria-Governo-Presidente da Direita…?