oposição da Direita e da Extrema-Direita, objetivamente, atravessa um momento deveras difícil, longe do poder, sem reais esperanças de para lá poder ir, com um dos seus partidos a desfazer-se e outro que nunca poderá ser tido em conta. Haverá de compreender-se que a solução de um tal sistema de condições não é fácil.
Numa tal situação, é usual, nas designadas democracias, que quem é oposição deite mão de tudo e de umas botas mais. Ou porque foram roubadas armas, ou porque os militares são poucos, ou porque com os médicos e enfermeiros sucede o mesmo, de tudo se impõe lançar mão. E porque este mecanismo é universal, também entre nós ele tem lugar.
Os portugueses, num destes dias, tiveram a oportunidade de poder assistir, mais uma vez, a esta espécie de folhetim, com os de sempre a surgirem nas televisões a perorar sobre o Governo e as suas práticas, em geral apontadas pela Direita e pela Extrema-Direita como sendo más, ideia logo multiplicada pela grande comunicação social, hoje quase completamente voltada para aquelas áreas políticas. Só agora, já com uma hipótese forte de Trump, O Bronco, poder vir a ser derrotado em novembro, é que a nossa grande comunicação social se começou a virar para críticas mais contundentes a este. Em todo o caso, atenção, porque Trump domina, ao menos psicologicamente, o Supremo Tribunal Federal…
O folhetim, como se sabe, desenrolou-se em torno da saída do Conselheiro Vítor Caldeira da liderança do Tribunal de Contas, onde foi substituído por José Tavares. A razão cimentou-se no princípio do mandato único para cargos deste tipo. Uma ideia muito antiga do atual Presidente da República, mas que não tem necessariamente que suportar-se em legislação publicada. Tem sido a prática seguida desde a saída de Joana Marques Vidal. Além do mais, para lá de não terem surgido vozes a contraditar tal prática – excetua-se os que estão em vias de extinção, ou os que pretendem afirmar-se –, ainda se pôde assistir à tolerância de Rui Rio, líder do maior partido da oposição. Portanto, tudo na melhor: Presidente da República, Primeiro-Ministro, líder do PSD.
Sem argumento de tipo legalista, passou-se à insinuação, vasculhando uma realidade que nunca o foi, mas agora realimentada com novas velhas suspeições. Em contrapartida, os que assim procedem, de pronto logo esclarecem que o tal caso de famílias de Mação, com que agora Lalanda e Castro põe em causa a independência de Carlos Alexandre, não tem fundamento. A verdade é que, com ou sem ele, a memória existe mesmo e a defesa da honra, ou da família, pode mesmo manter-se por gerações. Toda a Direita, a Extrema-Direita e os jornalistas, analistas e comentadores, naturalmente anti-PS, acham exatamente que não existe problema. Onde deveria existir seria no caso de José Tavares ir para a liderança do Tribunal de Contas: aqui já deveria valer aquela do César e da mulher…
Por fim, a inesquecível entrevista curta de Patrícia, da SIC Notícias, a Paulo Campos. Pois, a jovem entrevistadora chegou a fazer lembrar uma iniciada no domínio do interrogatório judiciário, pretendo, a fortiori, que Paulo Campos explicasse o inexistente. E tudo, sempre, não deixando que o entrevistado pudesse explicar a realidade do que estava e esteve em causa. Vive-se um tempo de fantástica chicana política. Embora, há que reconhecê-lo, esta nossa realidade seja típica de verdadeiros aprendizes do trumpismo.