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Cerca de vinte autarcas, apicultores e munícipes “responderam à chamada” e participaram em sessão de sensibilização sobre a Vespa Velutina que decorreu na passada segunda-feira, no Auditório Municipal, em Ponte de Lima.
A iniciativa enquadrava-se no âmbito do projeto “Controlo Vespa 2.0| Estratégia de Prevenção e Controlo da Vespa Velutina nos Ecossistemas do Alto Minho” e era dirigida às equipas do município, bombeiros, sapadores, apicultores, juntas de freguesia, conselhos diretivos de baldios e para a população em geral.
A abrir a sessão esteve Carlos Lago, vereador da Câmara Municipal de Ponte de Lima, que fez a introdução ao tema recordando que este “é um assunto que nos preocupa a todos” e representa um grave problema para os apicultores. De seguida, o autarca apresentou o orador e passou-lhe a palavra.
Luis Batista, zootécnico e também apicultor, foi quem partilhou com aquela assembleia todos os esclarecimentos sobre a vespa velutina.
O técnico começou por fazer uma retroespectiva do aparecimento da espécie em terras do ocidente, tendo referido que a vespa Velutina entrou na Europa em 2004, através de Bordéus, França, numa carga vinda do oriente e, de seguida, espalhou-se pela costa francesa.
Mais tarde, em 2011, a vespa velutina chegava a Portugal, através do porto de Viana do Castelo, numa carga de madeira. Desde essa data, e até aos dias de hoje, a vespa velutina foi se disseminando de norte para sul muito rapidamente e hoje domina em praticamente todo o território português à excepção de Alentejo e Algarve.
Segundo o orador a razão desta fraca disseminação na zona sul de Portugal deve-se ao facto de a espécie ter uma aptidão por zonas onde haja madeira e àgua para os ninhos
São cinco espécies de vespas mais populares, sendo que duas delas são de um porte maior: a Crabro e a Velutina, esta última altamente predadora.
Estas duas espécies têm características diferentes, nomeadamente na forma do ninho constroem e como fazem a sua manutenção.
Ambas conseguem fazer um ninho de enormes proporções, podendo albergar vários milhares de indivíduos, mas mesmo assim com algumas diferenças entre eles.
Se encontrarmos uma área à volta do ninho demasiadamente limpa estaremos em presença de um ninho de vespa velutina, a qual se mostra muito um cuidado higiénico extremo.
Por seu lado no caso da vespa Crabro, poder-se-á ver um ninho com muito lixo, denotando menos preocupação higiénica.
Ainda se podem distinguir os ninhos de uma e outra espécie. A vespa velutina faz a porta de entrada para o ninho na parte superior; enquanto que a espécie crabro a abertura de entrada se situa na parte de baixo do ninho.
A Vespa Velutina é uma forte ameaça para a população em geral – em Ponte de Lima já morreram três pessoas-, mas muito especialmente revelam-se um perigo para os apicultores, já que é uma espécie predadora, que ataca e come a vespa europeia, as nossas “obreiras”.
Ao matar essas abelhas, reduz-se a sua capacidade de polinização, o que irá afetar toda a cadeia alimentar e equilíbrio ambiental.
A expansão desta espécie de vespa já era previsível desde, pelo menos 2011, tendo na altura os apicultores dado o alerta, mas os governantes nunca assumiram este combate como um objectivo nacional.
Segundo denúncia de apicultores presentes na sessão, nos dias de hoje, quando um proprietário alerta para a existência de um ninho de vespas, terá que pagar 37 euros para que uma equipa se desloque ao local para verificar a situação. Mesmo assim a deslocação ao local demora muitas vezes mais do que um mês.
Perante isto, verifica-se que, muitas vezes, os proprietários não reportadam a existência de ninhos, o que favorece a multiplicação da espécie.
Por seu lado, Acácio Lopes, presidente da Junta de Freguesia de Arcozelo, presente na sessão, assegurou que, na sua freguesia, a Junta assegura esse pagamento, ficando os populares sem essa obrigação.
Quisemos saber se esse é um procedimento que a Câmara Municipal de Ponte de Lima também acompanha, tendo enviado a questão a Vasco Ferraz, presidente da Câmara Municipal de Ponte de Lima (CMPL), mas até ao momento ainda não foi possível obter essa informação.
Por sua vez, Luis Batista assegurou ser necessário que cada um tenha uma parte activa na destruição dos ninhos de vespa velutina. Não de qualquer forma, nem em qualquer altura, mas nos momentos certos e com produtos corretos.
Os apicultores já o fazem, mas todos podem ajudar nesse combate, construindo armadilhas para a captura da espécie.
Para tal basta uma garrafa de plástico vazia, fazer uma abertura e colcoar um isco no seu interior. A vespa é fortemente atraída por isco com néctar forte, pelo que se poderá fazer isco de forma simples adicionado açucar água e fermento.e colocando no interior da garrafa.
Luis Batista acredita que é necessário alargar esta “caça à vespa”, nomeadamente envolvendo a comunidade escolar, promovendo esclarecimento, mas também sessões práticas de manufactura das armadilhas.
Segundo o técnico, a destruição dos ninhos é outro dos passos necessários. Para tal essas acções devem ser feitas no período compreendido entre Fevereiro e Abril, altura em que a vespa fundadora terá até 20 vespas no ninho. Após esses meses as vespas multiplicam-se, sendo possível cada ninho albergar 2000 ou mais vespas.
Alguns dos presentes na sessão tomaram parte activa, tendo colocando questões e partilhando opiniões. Nesse ambiente de partilha, um apicultor presente, questionou sobre a possibilidade de haver dinheiros públicos para o combate à vespa velutina, mas o orador prontamente disse não ser essa a área de acção.
Foi então solicitado se alguém na sala sabia de algum desses apoios, mas ninguém soube esclarecer, nem o representante da CIM presente na sala, nem o único representante da CMPL que já tinha abandonado a sala.
Esta sessão de sensibilização sobre a Vespa Velutina resulta de uma acção desenvolvida pela CIM, que tem vindo a ser replicada em outros concelhos do Alto Minho. Nesta sessão teve ainda a parceria da CMPL