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Hélio Lucas Dantas Araújo e Fernando Pimenta têm demonstrado ser uma dupla vencedora com provas dadas na canoagem.
Já lá vão 31 anos desde a altura em que esta dupla de treinador e atleta se conheceu e, desde aí, se gerou a cumplicidade que trás vitórias para Portugal.
Quisemos saber um pouco mais sobre como tudo aconteceu.
Em entrevista, Hélio Lucas, professor de 47 anos de idade, natural de Arcozelo, Ponte de Lima, fala-nos do seu início de carreira até aos desafios presentes.
Como descobriu a canoagem?
Foi há cerca de 31 anos. Andava no 10º ou 1 1º ano e fomos visitar o clube, que na altura era a a EDL, situada no antigo ciclo. Recordo que havia lá inúmeros barcos. Andei por ali algum tempo a experimentar. Gostei, comecei a praticar e, ao fim de algum tempo, o Vitor Marinheiro, que na altura estava à frente do clube, disse-me que passaria a ter menos disponibilidade e convidou-me a para ficar a ajudar a secção.
Tinha 17 anos e, na altura, percebíamos muito pouco da modalidade.
Passamos a participar em campeonatos nacionais e a coordenar a canoagem de forma mais activa.
Começamos a impulsionar a secção de canoagem, tendo mesmo ficado ficado em 13º a nível nacional de clubes.
Depois surge o Clube Náutico de Ponte de Lima em 2001, do qual sou fundador e o sócio nº2.
A partir daí eu começo com uma participação mais activa na modalidade. Nessa altura estava a tirar o curso e dividia-me entre Ponte de Lima e Vila Real, cidade onde estudava.
Eram três, quatro dias na universidade e três, quatro dias em Ponte de Lima. O meu tempo livre era praticamente todo gasto na canoagem.
A partir dessa data as coisas foram acontecendo em crescente.
O Centro Náutico de Ponte de Lima assume-se como um grande promotor da canoagem em Ponte de Lima?
Sim. Inicialmente a canoagem não tinha grande tradição em Ponte de Lima. Há 31 anos atrás as pessoas estavam voltadas para o rio mas era mais para o lazer, passeio de barco, a pesca, mas de resto até havia receio para a pratica da modalidade.
Tivemos alguma dificuldade em convencer os pais a ter confiança na prática da modalidade.
A partir do momento em que se formou o clube e fomos tendo resultados, foram dadas melhores condições, fomos crescendo em várias etapas.
O clube foi criado para 20 pessoas, depois já eramos 50. Quando se dimensionou para 50 já eramos 100 e assim foi crescendo aos poucos até se tornar num clube a nível nacional e também um clube de referência internacional.
A partir daí foi acompanhando o Clube Náutico e fiz o meu trajecto como treinador.
No início no clube, depois nas competições nacionais, competições internacionais, conseguindo alguns títulos internacionais.
Mas inicialmente chegou a participar em provas como atleta…
Nunca tive tempo para desenvolver uma carreira como atleta. Aos 17 anos já estava a dar treinos e envolvia-me muito na vertente do treino. Foi uma paixão que eu sempre tive, que sempre gostei.
Ponha-me em cima do barco, sabia andar no barco, cheguei mesmo a ter alguns resultados engraçados, mas depois vi que fazia falta para ajudar, nomeadamente na área dos treinos.
Ser treinador era a única coisa que eu queria fazer e, aos poucos, as coisas foram-se juntando e atingi aquilo que nuca imaginava: era campeão da europa, de repente campeão do mundo sub-23 e, de repente, tinha atletas nos campeonatos europeus e mundiais.
Como descobriu o Fernando Pimenta?
Em 2001 o Fernando apareceu numas férias desportivas que o clube promovia.
O objectivo dessas acções era proporcionar a ocupação dos tempos livres dos jovens no período do verão e, por outro lado, permitir que os jovens pudessem experimentar a canoagem.
Com as outras modalidades em férias, nós aproveitávamos para ver se conseguíamos arranjar atletas através desse trabalho nas férias.
O Fernando veio a uma dessas actividades de verão em 2001 e gostou.
Não era um atleta excepcional. Era um atleta muito esforçado, mas um pouco descoordenado, virava muito e tinha algumas dificuldades.
Depois chegou o inverno e nós convidamos os melhores a ficarem. Na altura do convidamos o Fernando a ficar. Estava presente o Mauro que desabafou: “Olha que ele não acreditou. Até julga que estão a brincar com ele, porque ele fica sempre em último.”
Mas o certo é que o Fernando já demonstrava muita garra e muita força de vontade. Hoje é campeão do mundo
Mas os talentos não são excepcionais logo no início?
Não, não. Os grandes atletas, e mesmo os que temos em Ponte de Lima, nunca foram aqueles em que o resultados dos testes mostrassem que poderíamos estar na presença de super-atletas.
Os atletas que temos em Ponte de Lima foram fruto de muito trabalho e persistência.
Há quanto tempo é treinador do Fernando Pimenta?
Treino o Pimenta desde sempre. Há cerca de 20 anos
Que costuma dizer ao Pimenta antes de entrar em prova? Há alguma palavra mágica?
Não. São palavras sobre a estratégia que adoptamos para a prova e, por outro lado, procuro que se centre nele e se foque nele, porque é isso que faz a diferença e não ficar nervoso com os outros ou com o que eles vão fazer.
Por outro lado, procuramos que ele nesse dia tenha boas sensações e consiga demonstrar naquela hora todo o potencial que tem.
Mas já o conheço bem. Cada vez mais, já sei quando ele está bem, quando está mais cansado, ou mais nervoso e, por isso, ajusto as palavras aquilo que vou encontrar naquela altura.
Quais os próximos desafios para esta dupla vencedora?
Este ano já terminamos tudo. Em todas as provas da especialidade do Fernando, que é a velocidade, ele conquistou 13 em 15 medalhas possíveis.
Aos 32 anos bateu uma série de recordes pessoais. Foi um ano dourado.
Agora ele vai ao campeonato do mundo de maratonas no final de setembro.
É uma prova mais longa, não é a especialidade dele, não é para isso que ele trabalha todos os dias, mas como é em Ponte de Lima ele vai tentar apurar-se. Depois disso, terá as suas merecidas férias.
Para o ano será a vez de se apurar para os jogos olímpicos de Paris que se realizam em 2024.
Um ano antes haverá uma prova de apuramento, que será no próximo ano. Todo o foco estará nessa prova com vista ao seu apuramento.
Há boas perspectivas para que o Fernando fique apurado e com bons resultados.
E ir aos jogos olímpicos significa, uma vez mais, lutar pelas medalhas…
Sim. O Fernando está no lote de meia dúzia de atletas que tem 2 medalhas nos jogos olímpicos, mas se, em Paris, ele ganhar mais uma medalha, passa a ser o único atleta português com 3 medalhas nos jogos olímpicos.
Será mais um passo na história do desporto português e, ainda por cima, mais orgulho teremos em ser um limiano a fazer esse feito.
É isso que nós vamos procurar fazer nos próximos dois anos.
A canoagem e rio estão intimamente ligados. O estado do rio Lima merece preocupação?
Sim. Nós somos daqueles que tentamos sempre arranjar soluções para os problemas do rio.
As algas são um desses problemas. Ainda há dias andamos com uma máquina a retirar algas do rio.
Há também uma outra máquina, que apanha as algas pela raiz, que anda a tentar limpar o máximo.
Em tempos falamos com a câmara e transmitimos a opinião de que a solução passaria pela existência de comportas no açude para permitir a descarga da água para limpar.
Por outro lado, notamos que o problema do rio não é só aqui. Se formos a Ginzo de Lima, à barragem do Lindoso e de Touvedo verificamos que estas algas vêm todas de lá.
Em tempos alertei a autarquia para esse facto. Mais do que um esforço da autarquia limiana, ele terá que ser um esforço conjugado de toda a comunidade intermunicipal no sentido de encontrar uma solução para o problema.
Hoje o que acontece é que Ponte de Lima gasta dinheiro a limpar, a Ponte da Barca não gasta e as algas vêm por ai abaixo e o problema não fica resolvido.
O rio não é só importante na vertente da competição, mas também como uma mais-valia para o lazer…
Sim. Ainda recentemente fizeram uma intervenção nas margens do rio, criando uma espécie de praia fluvial. Fiquei muito agradado.
Era bonito que existissem praias fluviais para usufruir. Ganhava a canoagem, o desporto, mas também as pessoas e Ponte de Lima.