Quinta-feira, Novembro 21, 2024

Ano 115- Nº 4976

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OPINIÃO | A negociação

É essencial firmeza ao PS de Pedro Nuno Santos

HÉLIO BERNARDO LOPES

 

A Direita e a Extrema-Direita, fortemente apoiadas pelo Presidente Marcelo Rebelo de Sousa e pela grande comunicação social, continuam a manter vivo o folhetim em que se caiu na sequência dos efeitos mortais do histórico parágrafo do tal comunicado da Procuradora-Geral da República, Lucília Gago.

Olhamos hoje o que se acabou de passar na Áustria, e constatamos o abismo que nos separa da democracia praticada neste país em face do nosso: o partido mais votado, como em tantos outros lugares da União Europeia, não deverá ter lugar na governação, tal como se passou há uns tempos em França. Um abismo, em face das reações, nada democráticas, do PSD de Passos Coelho, do CDS de Portas e do próprio Presidente da República do tempo, Aníbal Cavaco Silva.

A ideia de Luís Montenegro, e do seu PSD, continua a ser a de Pedro Passos Coelho: fomos o partido mais votado, logo podemos fazer tudo o que entendermos. Assim, uma minoria passaria a ser como se se tratasse de uma maioria absoluta. Felizmente, parece que Pedro Nuno Santos se determinou a não seguir o fatídico caminho que esteve para ser prosseguido por António José Seguro, então evitado pela intervenção de Mário Soares.

Sem que para mim constituísse uma qualquer estranheza, o PSD lá tentou “negociar” com os partidos, mas sem de tal dar notícia pública, ao contrário do que sempre acontece por todo o lado realmente democrático. Evitava-se, deste modo, mostrar que o PSD, de facto, também negociava com o Chega, como se o PS de Pedro Nuno Santos fosse o tal parceiro apregoado como o preferencial. O problema é que o PS descobriu a jogada…

Nestes últimos dias, o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa, verdadeiro comandante da ação política laranja, lá nos surgiu com a tal do “interesse nacional”!! Simplesmente, o Presidente da República sabe que o interesse nacional é o ditado à luz de quem tem de o defender. Não existe o interesse nacional, mas diversas visões deste conceito. Simplesmente, a visão do interesse nacional do Presidente da República e do seu partido vive a anos-luz da posição recentemente enunciada pelo Papa Francisco, a cuja luz se impõe que os ricos paguem mais impostos, a fim de poder distribuir melhor a riqueza já existente e a que vier a ser criada. Foi um tema sobre que sobreveio um silêncio quase global…

A dita teimosia do PS de Pedro Nuno Santos tem a mais cabal razão de ser, porque continuar a prosseguir com as duas medidas em causa o que se irá criar é mais pobreza, maior injustiça e acrescida desigualdade social. O problema é que estes são, e desde há muito, grandes objetivos estratégicos da Direita e, mais ainda, da Extrema-Direita.

É essencial que o líder do PS não ceda à vozearia que por aí paira, e se determine a defender as mais que justas posições que sempre o PS assumiu. E teve, há dias, toda a razão: não tem medo de eleições, nem mesmo de as perder. Compete ao PS não ajudar a pôr um fim no Estado Social, que é o grande objetivo (e desde sempre!) do PSD e da generalidade da Direita portuguesa. E se os portugueses quiserem seguir a política que está hoje a ser montada, acabando por destruir o que a Constituição de 1976 trouxe aos portugueses, bom, terão de pagar o preço da desatenção e do desinteresse pela política.

Tenho para mim, com base no que vou escutando, que a mudança já operada das legislativas para as europeias traduz o início da perceção do barrete em que, graças à grande comunicação social, os portugueses enfiaram. E quanto a sondagens, bom, basta que se recorde as previsões que, afinal, desembocaram na maioria absoluta de António Costa, ou no pulsómetro de Pedro Santos Guerreiro, em que o Chega descia sempre, mas teve depois um fantástico salto quântico, ou no desapreço opinativo de Marta Temido em face de Sebastião Bugalho, mas em que a primeira foi quem veio a vencer.

Termino, pois, com dois pedidos. O primeiro, à liderança do PS, para que mantenha a defesa do seu programa, não se deixando dominar pelas forças que contra si se movem. O que conta é o discernimento dos portugueses. E o segundo, à grande comunicação social: se realmente ainda dispõe de um mínimo de moral e de ética jornalístca, deixem de apresentar sondagens, porque as mesmas são completamente incontroláveis, sendo preferível apresentar as ideias em jogo, ouvir os partidos e deixar que os eleitores escolham por si.

 

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