A saga da família Bernardo, inspirada na vida do bisavô do escritor Miguel Vilas Boas, foi apresentada em livro esta tarde, dia 27 de setembro, no Auditório Municipal de Ponte de Lima. O romance, que percorre várias gerações através de guerras, processos de emigração e transformações sociais, traça um retrato íntimo de Portugal ao longo do século XX.
A sessão de lançamento contou com a presença do autor, que começou por agradecer ao padre e jornalista Manuel Vilas Boas, ausente por motivo de doença, e aos oradores presentes, a psiquiatra Luísa Quintela e o sociólogo Manuel Carlos Silva. Miguel Vilas Boas destacou ainda o papel fundamental da esposa, Laura, no processo de revisão da obra, e agradeceu a participação dos grupos locais que enriqueceram o evento. De seguida, falou sobre o processo de reconstrução literária da sua herança familiar, convertendo memórias reais em narrativa ficcional.
Na obra, agora apresentada ao público, acompanha-se uma família oriunda dos vales do Lima ao longo de cinco gerações, entre meados do século XIX e meados do século XX. A narrativa centra-se em Bernardo, personagem principal cuja infância é marcada pela pobreza e pela ausência de escolaridade formal. Ainda menino, guarda ovelhas e, nos montes, conhece Mariana, amiga de quem se aproxima afetivamente e a quem revela o desejo de “ser alguém”.
A história, assumindo a sua natureza ficcional, alicerça-se numa verosimilhança social e histórica. As reviravoltas no percurso de Bernardo conduzem-no à aprendizagem do ofício de ferreiro e, posteriormente, ao casamento com uma jovem que partilha os seus projetos. O casal abre uma loja de ferragens que, para além do êxito material, se torna um espaço de circulação de ideias, onde a leitura regular do jornal funciona como motor de transformação intelectual e moral.
O pano de fundo histórico abrange o final da Monarquia, a transição para a República e parte do Estado Novo, integrando acontecimentos nacionais na vida privada das personagens. Ao dar voz a trabalhadores, criados, jornaleiros e pequenos lavradores, a obra estimula uma leitura que dialoga com a memória coletiva portuguesa.
O evento reforçou esse alcance, associando literatura, música e leitura pública. A sessão teve ainda a participação do Grupo de Teatro de Carapeços, que reproduziu dois excertos da obra, e do Grupo de Cordofones do IAESM de Barcelos, que interpretou duas músicas populares.
“Os Bernardos” promete ser não apenas um romance, mas um testemunho literário que atravessa as memórias de um Portugal recente.
