A vacinação contra a covid-19 em Portugal deve abranger “mais pessoas no mais curto espaço de tempo” para evitar uma subida das hospitalizações, se tiver de enfrentar uma nova vaga de contágios, defendeu hoje o epidemiologista Manuel Carmo Gomes.
Tendo em conta as dificuldades de distribuição de vacinas, o também membro da equipa técnica de vacinação propõe que seja alargado “para as seis semanas” o período entre a primeira e a segunda toma da vacina.
“Se o fizermos, temos a possibilidade de vacinar dezenas de milhares de pessoas fragilizadas, que podem ser hospitalizadas se forem infetadas, num mais curto espaço de tempo”, sustentou.
O investigador da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa disse que o Reino Unido tem vindo a alargar até às 12 semanas o prazo de vacinação entre a primeira e a segunda toma da vacina e já demonstrou que, “pelo menos ao fim de seis semanas, a resposta das pessoas à segunda dose é muito melhor, tem uma concentração média de anticorpos no sangue mais elevada do que se a diferença for apenas de três ou quatro semanas.
Manuel Carmo Gomes defendeu ainda o alargamento da toma da vacina da AstraZeneca “a todas as idades, nomeadamente a partir dos 65 anos”.
“A meu ver vamos tarde nessa direção, porque a evidência (informação científica) diz-nos que (a vacina da) AstraZeneca confere proteção muito elevada para maiores de 80 anos, nomeadamente contra hospitalizações”, afirmou.
Portugal pode enfrentar uma nova vaga de contágios pelo novo coronavirus quando entrar na fase de desconfinamento, alertou hoje o epidemiologista, considerando preocupante a maior transmissibilidade provocada pelas novas variantes.
O cientista explicou que, apesar de as novas infeções estarem a diminuir no país, o ritmo é agora “mais lento” e o próprio Rt [índice de transmissibilidade], que está abaixo de 1, “tem estado a subir devagar” e já não está a “ir na direção do 0 mas a tender para um planalto”.
Para o membro da equipa técnica de vacinação, “quando começarmos a desconfinar, é inevitável que o número de contágios vá aumentar”, como este primeiro ano de pandemia já demonstrou.
Manuel Carmo Gomes advertiu que, nesta fase, a preocupação é de que os contágios “possam aumentar mais depressa” devido à presença das três novas variantes, tendo em conta que “as mutações fazem com que o vírus se transmita mais”.