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O maestro Gaspar Lima, 41 anos, falou com o “Cardeal Saraiva” (CS) acerca da banda filarmónica que já dirige há mais de uma década, dos desafios que foi encontrando ao longo dos anos mas também deixou repto à organização das Feiras Novas no sentido de todas as formações musicais e outras animações poderem conviver sem “atropelos”.
Depois de dois anos de pandemia e por consequência, sem Feiras Novas, a Banda da Música de Ponte de Lima (BMPTL) está com certeza ansioso por voltar a pisar o coreto do largo Camões do próximo Sábado…?
É verdade, estes 2 últimos anos foram realmente muito complicados para todos. As bandas sem poderem participar nas várias romarias que se realizam por todo o Portugal tiveram a dificuldade acrescida de não poderem trabalhar nos moldes normais. Tiveram de se reinventar e criar formas de trabalho respeitando as regras, exigidas pela DGS. Passado este tempo, podermos voltar a partilhar todos os músicos o mesmo espaço é realmente muito bom, as Feiras Novas são uma festa onde há sempre muita gente a ver e como é óbvio dá-nos um gozo maior quando tocamos para grandes plateias.
Sendo as Feiras Novas umas das maiores festas concelhias da região, pode dizer-se que é o ponto alto da época da BMPTL?
As Feiras Novas são sem dúvida uma das maiores festas concelhias, onde a Banda de Música de Ponte de Lima tem tido a oportunidade de se apresentar. Vêm pessoas de toda a parte mas não é dada por mim uma maior atenção em relação a outras. Enquanto maestro tento que, independentemente do local onde nos apresentamos, façamos sempre o nosso melhor. Nas Feiras Novas, ao longo do dia nem sempre o ambiente é o melhor para se fazer música, nem para quem toca e muito menos para quem nos gostava de ouvir.
Refere-se à diversidade de animações e atuações a acontecer em simultâneo?
Refiro-me ao ambiente que é criado em redor do coreto, no largo de Camões. Todos os anos há algo de novo, desde motas que a meio da manhã tem o privilégio de irem dar umas aceleradelas junto ao chafariz. Julgando eles que quando o trompete ou qualquer outro instrumento faz um solo os está a “picar”, resolvem mostrar a potência das suas zundapps. Há pessoas que sem qualquer tipo de sensibilidade e digo mesmo respeito se encostam nos coretos com bombos e concertinas prejudicando o trabalho que pelas bandas filarmónicas é feito.
O que poderia ser feito para melhorar essa situação?
Há espaço desde a Senhora da Guia até a Expolima para todos, não há necessidade de existirem estes atropelos musicais. Se tiverem de ser as bandas a sair do largo, que exista essa coragem e sugiram outros espaços! Julgo que por parte da organização também poderia haver esse cuidado, por exemplo o programa oficial das Feiras Novas não menciona o concerto das bandas às 22h no Largo Camões, mas sim a “Noite das Rusgas e Concertinas no centro histórico”. O que de certa forma legitima a presença das concertinas no Largo, fazendo ele também parte do Centro Histórico. Não sei se em Ponte da Barca foi feito algum trabalho nesse sentido mas nas festas de São Bartolomeu, onde estão as bandas não estão outras formações musicais. Inclusive quando as rusgas passam junto aos coretos param de tocar e os seus executantes só voltam a fazê-las soar uns metros mais à frente. Aceito que não seja fácil agradar a todos mas este crescendo mau estar não é agradável para ninguém.
Já desempenha a função de maestro à frente da banda desde 2010. O que mudou desde então? Existem hoje novos desafios ou outras dificuldades que não existiam na altura?
Mudou muita coisa. Quando iniciei a função de maestro da banda, esta era muito mas mesmo muito jovem. Havia a necessidade, para se poder fazer algum reportório mais ousado, de chamar músicos externos com mais experiência. Hoje em dia isso não acontece, a banda tem em todos os naipes músicos capazes de tocar qualquer programa. Foi um processo lento e trabalhoso mas que hoje em dia demonstra os benefícios que o saber esperar trouxeram. Recordo-me precisamente nas Feiras Novas, talvez em 2011, um fervoroso ouvinte da nossa banda me dizer “…não ponha o miúdo a fazer o solo, aqui tem de ser alguém mais experiente…”. Não por teimosia mas sim porque já na altura acreditava que o tal miúdo já tocava muito bem foi ele que fez o solo. Só não falha quem lá não vai e se nunca nos for dada a oportunidade, nunca saberemos como nos defender para que a probabilidade de erro seja minimizada.
Fale-nos um pouco da banda e dos elementos que a constituem actualmente.
A banda é constituída neste momento por 68 elementos. São músicos que na sua grande maioria deram os primeiros passos musicais na escola da banda. Uma grande percentagem oriundos das várias freguesias do concelho de vários graus de formações académicas. Existem alguns elementos com ligações muito fortes à música. Desde miúdos que enveredaram pela música. Estudam hoje em dia em escolas superiores de música, fazem parte de formações profissionais como a Banda Sinfónica da GNR, etc… São aspectos que fazem crescer o nível da banda, são experiências que adquirem, absorvem e acabam por ser partilhadas com os colegas enriquecendo a literacia musical de todos os elementos.
Como se processa a “captação” de novos músicos? É preciso saber um tocar um instrumento?
A captação é feita essencialmente através da Escola da banda. Existem também outras instituições de ensino da música, quer no concelho ou fora dele onde por vezes recrutamos músicos. Normalmente integram a banda ainda muito novos, nem sempre com um bom domínio técnico do instrumento para interpretarem as obras que fazem parte do nosso reportório, mas ao estarem no meio dos outros crescerão e serão num curto espaço de tempo mais-valias musicais. É fundamental que exista disponibilidade e muito gosto pela música.
Como vê o futuro da BMPTL?
A banda é constituída por músicos muito novos, cobiçados pelas diversas bandas que existem. São jovens cheios de energia, com muito brio, gosto e vontade em representar a BMPTL, o nosso Concelho a nossa Região. Para além dos aspectos humanos que são fundamentais para se trabalhar em grupo fazem desta instituição parte músicos fantásticos com capacidades musicais incríveis. É grande o amor que nutrem pela música e o respeito que tem pela colectividade onde deram os primeiros passos musicais. Todos Juntos continuaremos a desenvolver a arte de que tanto gostamos e seremos certamente a cada dia melhores.