EDITORIAL
Em plena campanha eleitoral nas últimas eleições autárquicas, Miguel Alves (MA), arrancou um discurso com oratória vigorosa para galvanizar o povo presente em comício do partido.
Sempre com os olhos postos nas televisões, eis que, de repente, o orador, empolgado, sacou um ovo do bolso para dissertar sobre uma história rocambolesca acerca do ovo e o lugar “exótico” de onde ele teria vindo.
E tudo isto para aparecer nas televisões! Quem o confessou foi o próprio em entrevista ao JN e TSF.
Não sei quanto pesou a história do ovo na sua eleição como presidente da Câmara Municipal de Caminha, mas tenho as minhas dúvidas quanto a esse mérito.
O certo é que Miguel Alves foi eleito e esteve vários anos à frente do município caminhense até ao dia em que António Costa, o nosso primeiro, o convidou para Secretário de Estado no dia do seu aniversário.
De malas aviadas para Lisboa, o ex-autarca, e também ex-Secretário de Estado, nem sequer teve tempo para aquecer a cadeira do poder. Tomou posse a 16 de Setembro, mas a 26 de Outubro já o jornal Público publicava a notícia “fatídica” e ontem Miguel Alves pediu a sua demissão.
A tal “notícia fatídica” dava conta de um contrato de arrendamento duvidoso que Miguel Alves, na altura autarca de Caminha, assinou com um promotor para a construção de Centro de Exposições Transfronteiriço em Caminha.
O contrato previa, nada mais, nada menos, do que o pagamento antecipado de 300.000 euros referente às rendas do 25º ano de utilização do referido centro de exposições.
A autarquia já entregou essa quantia ao promotor sem qualquer garantia, ou seja, adiantou o valor do último ano do contrato, sendo que, pelo meio, existirão 24 anos de arrendamento do imóvel, que a Câmara está obrigada a cumprir.
A “esquisitice da coisa” é que a obra nunca se realizou, nem sequer foi assegurado pelo promotor a compra do terreno onde deveria ser implementado o imóvel.
A “bondade” do empreendedor só se verifica no final do contrato, com a Câmara a ter opção na compra do imóvel… que teria pago durante 25 anos.
Miguel Alves inicialmente manteve silêncio sobre o caso e, quando finalmente decidiu esclarecer a situação, não explicou nada e deixou ainda mais dúvidas no ar.
As notícias sucederam-se em catadupa e a oposição, seja lá de que cor for, tem dúvidas e exigiu a presença de Miguel Alves na Assembleia da República para esclarecimentos.
O mal estar era geral e, após ontem ter sido acusado pelo Ministério Público em outro caso em que está envolvido, Miguel Alves pediu a demissão.
Não houve ovo na despedida, mas foi uma ova! Nem deu tempo para aquecer o lugar.
Se o que Miguel Alves queria era aparecer na televisão, então conseguiu em pleno! Agora é que foi!