Ponte de Lima viu desaparecer esta semana duas figuras eclesiásticas do concelho.
Após a morte do Padre Eurico, foi hoje a vez do Cónego António de Oliveira Fernandes nos deixar.
António de Oliveira Fernandes era natural da freguesia da Ribeira e tinha 77 anos de idade.
Foi um homem da cultura, tendo ocupado vários cargos, quer na hierarquia religiosa, quer no ensino superior.
Foi ordenado sacerdote a 25 de Setembro de 1966 e, desde essa data, exerceu cargo de Prefeito no Seminário de Nossa Senhora da Conceição.
Oliveira Fernandes frequentou e concluiu o Mestrado em Filosofia na Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma.
Mais tarde, em 1980, foi nomeado Reitor do Seminário de Santiago, após ter desempenhado a função de vice-reitor durante vários anos nessa mesma instituição.
Em 1995 foi nomeado Delegado Episcopal no Departamento para o Diaconado Permanente. No ano seguinte terminou o Doutoramento em Filosofia e começou a leccionar na Universidade Católica Portuguesa (UCP) disciplinas como Antropologia Filosófica, História da Filosofia Contemporânea, Ontologia e Psicologia do Desenvolvimento Humano.
Na UCP viria a desempenhar outras funções além da docência tendo sido Director Adjunto e, posteriormente, Assessor da Direcção da Faculdade de Teologia, em Braga.
De 2004 a 2010 exerceu as funções de Assistente na Associação Cristã de Empresários e Gestores (ACEGE).
A música foi uma das suas paixões e, em 1976, assumiu a direção musical do então formado Orfeão Limiano.
Oliveira Fernandes viveu na Ribeira, na Rua das Borralhas, na casa que fora de seus pais. Foi aí que viveu os últimos anos da sua vida, junto ao sopé do Monte de Santa Catarina, local a que se sentia ligado desde a sua infância.
A sua presença na Ribeira foi sempre uma constante, mas tornou-se efectiva nos últimos ano, após o corte dos laços que o uniam a Braga, cidade onde exerceu durante anos a sua actividade.
Oliveira Fernandes confessou ter sido com mágoa, e de forma repentina, que trocou o seu escritório em Braga pelo repouso da sua casa nas Borralhas.
Determinado dia encheu caixas e caixas com os seus livros e pertences e deixou para trás Braga, para rumar a Ponte de Lima.
Oliveira Fernandes confidenciou que havia indignação e nomes para esse trecho da sua vida.
A caça foi também uma outra paixão, que com o avançar da idade foi abandonada, mas recordada pelos convívios que proporcionaram e pelas localidades distantes que visitava.
Em Setembro, e em amena cavaqueira na sua casa nas Borralhas, Oliveira Fernandes levou-me até à janela para me mostrar as vistas da sua casa.
A olhar ao longe, para o serpentear do Rio Lima até à vila, António – só António, como me sugeriu que o chamasse – confidenciou que um dia recebeu a visita de D. Anacleto Oliveira.
Nessa altura levou o bispo a ver as vistas àquele mesmo sítio, tendo este exclamado que finalmente já percebia porque é que o António se refugiava naquele local, tal era beleza da paisagem.
Ainda incrédulo e com pouca informação, Oliveira Fernandes recordava, assim, o desaparecimento do seu amigo, ocorrido há um dia.
Recorda o amigo com saudade, o seu desaparecimento repentino, e rapidamente a morte surge como tema de conversa.
Oliveira Fernandes era um homem de vasta cultura e de simplicidade extrema. A sua partida deixa saudades entre os seus inúmeros amigos, ex-alunos e na comunidade limiana em geral.
Avelino Castro