Segunda-feira, Setembro 23, 2024

Ano 113 - Nº 4892

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Mais uma vez, Agostinho Costa marcou a diferença

À beira do meio século sobre a Revolução de 25 de Abril, tenho para mim que se vive hoje com mais medo do que antes daquele acontecimento. Em todo o caso, é essencial ser aqui mais claro.
Falo como escrevo antes por via do que vivi no meu dia-a-dia nos tempos da infância e da juventude, no liceu e na universidade, e nas instituições em que comecei a trabalhar, logo desde o meu 3º Ano: Direcção-Geral das Construções Escolares, Técnico e LNEC. Falava-se de tudo e como muito bem se entendesse, embora não existissem partidos, nem fazendo intervenções sistemáticas nas aulas académicas. Até no liceu, nas disciplinas de Religião e Moral, OPAN e Filosofia se atacava o Governo a-torto-e-a-direito, como usa dizer-se. E nos intervalos liceais – o meu liceu era misto –, rapazes e raparigas não faziam outra coisa a não ser falar de política, mas também da bola.
Em contrapartida, nos dias de hoje reina, objetivamente, o medo. Raros têm a coragem de assumir uma posição política, sendo que as televisões debitam o que convém aos grupos a que se possam encontrar ligados os programas ou os canais. Os convidados são sempre os mesmos, ou da cor dominante no programa, as perguntas já contêm a resposta desejada e raríssimos assumem a coragem de apontar os males do País, e, ao menos em mui boa medida, à grande comunicação social. E depois, o grupo Global Mídia: sem censura oficial, com a tal apregoada liberdade, anda-se por todo o lado a procurar saber quem realmente é o dono do referido grupo!! É o que penso: nunca houve tanto medo como hoje. Provavelmente, será assim, com naturais cambiantes, por todo o lado do Mundo atual.
Ora, num dia destes – creio que na noite de sexta-feira –, a CNN Portugal trouxe-nos um diálogo entre o Major-General Agostinho Costa, o Embaixador Francisco Seixas da Costa e o académico Tiago André Lopes. Foi, como normalmente, um diálogo interessante, mas por ele se pôde ver um acontecimento que importa salientar.
Com toda a razão, Agostinho Costa chamou a atenção para o facto de a Federação Russa não ter qualquer interesse em atacar um Estado da OTAN, que foi o que sempre se deu, e já desde o tempo da criação da referida OTAN. E salientou, precisamente, a situação inversa: tem sido a OTAN que, pelo seu alargamento, se tem colocado como num cerco ao território da Federação Russa. Bom, é a realidade! Mas referiu ainda mais e mais essencial: os Estados Unidos, com a sua OTAN, violaram o acordo de cavalheiros que teve lugar entre Gorbachev, James Baker III e Chevarnadze, a cuja luz a OTAN não se expandiria para a envolvente fronteiriça da Federação Russa. Bom, o que se deu foi, lamentável, mas intencionalmente, o inverso.
Já sem espanto, de um modo completamente esperado, o embaixador salientou que não existe nenhum acordo nesse sentido, nem nenhum Estado pode deixar de desejar aderir à OTAN, se assim entender. Ora, existem nesta resposta três tipos possíveis de reparos a fazer.
Em primeiro lugar, Agostinho Costa salientou a existência, de acesso público, da ata de certa reunião em que estiveram presentes aqueles três políticos e por eles assinada. A mesma mostra o compromisso assumido pelos respetivos Estados no sentido de a OTAN não se expandir para as proximidades da fronteira da Federação Russa. Simplesmente, os Estados Unidos, como sempre se conheceu, são um Estado de múltiplas palavras. Basta recordar como nos asseguravam, nas Necessidades, que Holden Roberto não vinha sendo recebido nos Estados Unidos, sendo que logo Nogueira, por via do MNE que dirigia, conseguiu, por contratação de uma empresa norte-americana, saber que era falsa aquela garantia, sendo que o líder da FNLA era recebido com o falso nome de José Gilmore. Um aliado, portanto… O tal aliado que assegurou ao Mundo que existiam armas de destruição maciça no Iraque… Enfim: um aliado e peras!!
Em segundo lugar, Francisco Seixas da Costa referiu que nenhum Estado soberano pode deixar de tentar aderir à OTAN, o que é verdade. Simplesmente, a OTAN não tem de o aceitar, só porque esse Estado o deseja. Se existia esse compromisso de cavalheiros, que muitos tomaram por honroso, essa teria de ser a razão da recusa nas entradas que se deram, sempre ao gosto de Washington e dos seus acéfalos e fracos seguidores europeus.
E, em terceiro lugar, se é indiscutível a fundamentação do surgimento da OTAN, já hoje esta estrutura se transformou numa entidade de ameaça ou de agressão, assim tal convenha aos Estados Unidos. E tudo isto ao mesmo tempo que a União Europeia, com exceções, oscila, qual rolha política, no mar comandado pela costa leste norte-americana. Como muito bem disse Seixas da Costa, os Estados Unidos são uma potência europeia. A tal potência que tem uma lei internacional própria, como também explicou a Miguel Sousa Tavares.
Foi um diálogo muito interessante, onde brilhou aquele nosso militar, certamente prezando muito a palavra dada honrosamente, e com a coragem de falar claro, coisa cada vez mais rara em Portugal: é a OTAN – os Estados Unidos, portanto – que ameaça a Federação Russa e não o inverso. E basta olhar o silêncio (quase) sepulcral dos europeus acerca do genocídio israelita sobre os palestinos: há décadas que nada vinham vendo, despertando agora para a velhinha ideia dos Dois Estados, bandeira brandida pelos… Estados Unidos. É como o velho terno: pare, escute e olhe (a voz do dono americano). E ainda por aí surgiram, bem em profusão, as críticas a Borrell, por via de ter este falado claro sobre o apoio de sempre de Israel ao Hamas!!!

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