Nasceu das cinzas da Segunda Guerra Munidal, na Aústria. Seu pai morreu na guerra e a sua mãe, perante o flagelo vivido naquele país, decidiu que seria melhor entregar a filha à protecção de um programa de resgate de crianças da Cáritas, que, nessa altura, resgatou mais de 5 mil crianças.
Aos 5 anos foi colocada num carro de palha, com um grupo de outras crianças tão pequenas como ela, com destino à estação de comboios mais próxima. Carregava uma mala com algumas peças de roupa e um cartão com o nome e um número. Depois seguiu-se viajou de comboio e barco até chegar a Ponte de Lima.
Em terras limianas Hannelore foi acolhida por Carlota Cardoso Rangel de Amorim e João de Deus Abreu e Maia, do Paço do Beiral, em Ponte de Lima.
O casal nunca a perfilhou, mas que sempre a tratou como filha.
Anos depois veio a casar-se com um médico dentista, de quem ganhou o apelido no nome e de quem teve quatro filhos e cinco netos, tendo passado a viver em Braga.
Foi já em idade adulta que Hannelore Fischer Cruz descobriu a sua paixão pela música. Estudou no conservatório, foi professora de Educação Musical, de Canto e de Técnica Vocal de centenas de alunos e uma soprano admirável. Mozart e Bach eram os seus preferidos.
Segundo o testemunho do seu neto ela “tinha uma voz angelical. Era extraordinária. Ofereceu a sua magia a vários casamentos e à Igreja fazendo ouvir a sua voz magnífica”, revelou José Miguel Cruz da Costa em entrevista à Associated Press, que viveu com a avó até aos 18 anos,
Aos 52 anos a vida desafiou-a. Ficou viúva e, como passou a ser o único sustento da família, teve que se reinventar e passou a gerir as propriedades da família.
Hannelore Cruz, aos 76 anos, teve novo desafio pela frente, mas este não conseguiu vencer. Foi das primeiras vítimas do COVID 19 em Portugal.
Cedo tomou medidas para se proteger. Mas acabou por ficar doente. Infectada com o novo coronavírus, desenvolveu febres altas e tosse forte e foi internada no Hospital de Braga, onde acabou por morrer apenas quatro dias depois.
Hannelore nasceu a 29 de outubro de 1943, em Viena de Áustria. Segundo as suas próprias palavras, que não se cansava de repetir, tinha vindo “para cá fugida da guerra, para uma família que não conhecia, não sabia falar a língua, não era desta terra, enfrentei muitos obstáculos e mesmo assim, sobrevivi”. Desta vez, não.