As vezes julgamos que as pessoas com quem nos cruzamos no dia-a-dia vão estar lá para sempre.
Sem saber porquê alheamo-nos da morte, sabendo que ela é inevitável. É por isso que, quando menos contamos, somos surpreendidos com a notícia de que mais um amigo partiu.
Hoje foi a vez de Amândio de Sousa Dantas, o eterno apaixonado por esta terra limiana.
Amândio em tempos emigrou para a Alemanha, mas cedo as águas do Lima o chamaram. Esta terra prendeu-o e ele abraçou-a para a vida até hoje.
O Amândio era um homem bom, de aparência tranquila. Nas palavras soltava a poesia, que lhe enchia a alma, mas nos silêncios cresciam rebeliões.
Não partilhávamos muitas confissões, mas certo dia deixou sair o lamento pela perda do seu irmão Luís. A perda abalou-o. Falava da forma como redescobriu o homem, após a sua morte. Percebi.
Alguns anos mais tarde, nos dias que se seguiram à morte da sua mãe, segredou-me em tom de grande desabafo: “sabes a minha casa agora está vazia- A minha mãe sempre esteve lá e agora já não está. É um vazio”. Percebi, também eu senti o mesmo pela perda da minha.
Neste último ano apercebi-me do seu ar diferente. Já não parava comigo para desabafar, para uma troca de ideias sobre as políticas “caseiras”. Sobre o rio e os plátanos, sobre as pessoas e este jeito de sermos limianos…
Percebi que estava mais alheio, mas não tive a mestria de perceber a rebelião que o consumia por dentro.
Cada vez mais, temos que tentar perceber o que dói por dentro daqueles que se cruzam connosco.
Sei que um amigo o amparou neste último episódio da vida, mas acabou por vencer o lado sombrio.
Rompeu o seu ar reservado e soltou todas as rebeliões que guardava, como que uma libertação.
As saudades eram muitas e o Amândio não resistiu à tentação de passar este Natal junto da mãe e do irmão.
Bom Natal para os três.