Hélio Bernardes Lopes | Colaborador
Sempre estive convencido, num mecanismo que foi crescendo com o desenvolvimento da presença de Donald Trump na Casa Branca, de que um seu segundo mandato permitiria a criação de uma ditadura mundial, naturalmente liderada pelos Estados Unidos. Todavia, também tive sempre presente os riscos que a História mostrou estarem associados à presença dos democratas no poder.
Objetivamente falando, a verdade é que Donald Trump nunca envolveu os Estados Unidos numa qualquer guerra. Até no caso de ataques ditos cirúrgicos o seu número foi muito inferior ao da era Obama. Ora, desde que Joe Biden chegou ao poder vêm surgindo, em crescendo, sinais de que maus ventos poderão estar a surgir por aí no plano das relações de conflitualidade por parte dos Estados Unidos no mundo.
As relações com a Rússia estão-se a deteriorar muito rapidamente, consequência de uma postura muito típica dos Estados Unidos, e que é o considerarem-se como os senhores do mundo, que indica quem é bom e quem é mau, sendo que neste último caso tudo depende das conveniências dos Estados Unidos, completamente à revelia da tal conversa já do tempo de Carter, ao redor dos Direitos Humanos. O que continua a dar-se com a Arábia Saudita é mais uma das infindas provas deste tipo de política cínica.
O mesmo se pode dizer das relações com a China, que voltam a encontrar um novo fator de aceleração, mas no mau sentido. O caso das vacinas é um exemplo muito vivo desta realidade agressiva dos Estados Unidos para com quem possa mostrar a possibilidade de os ultrapassar.
O escândalo moral ao redor das vacinas, materializado na quase total marginalização dos povos dos países pobres do mundo, mostra como a retórica dos Direitos Humanos, mormente ao redor do direito à vida, não passa, de facto, de mera retórica. Bastou que a China tenha mostrado a disponibilidade de colocar as suas vacinas ao alcance daqueles povos, para logo, num ápice, se suscitar uma reação contrária por parte dos Estados Unidos.
A verdade é que se a China se comprometeu a fornecer cerca de um bilião de doses de vacinas suas, destinadas aos povos de perto de 45 países, de pronto surgiram acusações dos Estados Unidos de que tal boa vontade seria parte de uma intervenção estratégica da China junto de países terceiros. Todavia, mesmo admitindo esta explicação, bem andariam os Estados Unidos se se deitassem a ultrapassar a China neste domínio. Infelizmente, os Estados Unidos há muito nos habituaram a dar um chouriço a quem lhes der um porco.
Perante esta velha realidade política dos Estados Unidos, estes determinaram-se, de imediato, a tentar criar uma frente, para já com a Austrália, a Índia e o Japão, no sentido de levar estes países a dificultar a iniciativa do Governo da China. E isto porque esta, no passado mês de dezembro, garantiu a países diversos do Sudeste Asiático e de África que teriam prioridade quando as vacinas chinesas estivessem prontas para distribuição. Sendo assim, porque não fazem ainda mais e melhor os Estados Unidos?
Lamentavelmente, os Estados Unidos estão a anos-luz de seguir a tomada de posição chinesa, em que se considera a vacina um bem público global. A explicação de Wang Huiyao, que preside ao Centro de Estados China/Globalização, é bem clara: temos o dever de fazer mais para ajudar outros países mais carenciados, dado que temos conseguido excelentes resultados no combate à COVID-19.
Mostra toda esta realidade o que pude explicar, aí por 1995, a um velho amigo meu, infelizmente já falecido: se os Estados Unidos vierem a ser ultrapassados por algum país do mundo – na altura tudo girava ao redor da Rússia, sem se pensar na China –, não hesitarão em recorrer à guerra, se necessário com armas nucleares, para garantir a sua posição de supremacia prestes a ser perdida. Custa-me acreditar que, desde que com boa fé, ainda exista quem duvide desta realidade. Um dado é certo: o caminho para a guerra continua a desenvolver-se, mormente desde que Joe Biden chegou à Casa Branca. Para lá do cinismo típico dos democratas, Biden tem necessidade de mostrar, à saciedade, que não e menos falcão, com a Rússia e com a China, que Donald Trump. Por acaso, também não reverteu o novo lugar da Embaixada dos Estados Unidos em Israel, nem se prontificou a ceder vacinas ao povo palestiniano…