
A União Europeia (UE) confirmou não dispor de informações atualizadas sobre o estado de mais de 220 mil bidões com resíduos radioativos depositados no Atlântico, a cerca de 650 quilómetros da costa da Galiza, desde 2003. A revelação surgiu em resposta a um questionamento da eurodeputada do Bloco Nacionalista Galego (BNG), Ana Miranda, que alertou para os riscos ambientais desta situação negligenciada. Os bidões foram lançados ao mar entre 1940 e 1985, quando a prática ainda era legal, mas décadas depois persistem graves incertezas sobre a sua integridade e impacto ecológico.
A Comissão Europeia afirmou que as verificações são realizadas periodicamente ao abrigo do Tratado Euratom, mas admitiu que os últimos relatórios disponíveis sobre as águas do Atlântico Norte datam de 1990 e 2003, deixando um vazio de informação de mais de duas décadas. Esta lacuna ganhou novo relevo com a recente expedição do navio oceanográfico francês L’Atalante, do Centre National de la Recherche Scientifique (CNRS), que já localizou mais de mil bidões com material radioativo na zona e está a recolher amostras de sedimentos, água e fauna marinha para avaliar o estado atual da contaminação.
Ana Miranda questionou a Comissão sobre as medidas que serão tomadas, lembrando que, apesar de a vigilância da radioatividade marinha frente à Galiza ter sido incluída no programa de 2020, a UE não cumpriu com o acompanhamento prometido. “A Comissão reconhece a existência destes resíduos nucleares, mas não dispõe de estudos atualizados sobre o seu impacto”, sublinhou a eurodeputada, exigindo transparência e ação imediata.
Do lado espanhol, a Xunta da Galiza já solicitou formalmente informações ao Conselho de Segurança Nuclear (CSN), organismo dependente do governo central, sobre os resultados da expedição francesa e o estado real dos bidões. O escritor Manuel Rivas juntou-se ao coro de vozes que exigem a remoção destes resíduos, alertando para os riscos de uma possível degradação dos contentores e consequente contaminação marinha.
Com a UE a manter-se em silêncio sobre novas inspeções ou medidas de mitigação, a situação permanece envolta em incógnitas, enquanto cientistas e ambientalistas pressionam por respostas concretas sobre um dos legados mais perigosos da era nuclear na Europa. A falta de dados atualizados e a demora na atuação das autoridades comunitárias deixam em suspenso uma questão que pode ter implicações graves para o ecossistema atlântico e para as populações costeiras.