Os dias que correm não permitem que o povo se reúna e encha as ruas de Ponte de Lima em festa.
Por isso, para além da habitual iluminação junto ao Largo de Camões, desta vez reduzida a um único painel luminoso, as Feiras Novas foram celebradas de forma tímida, apanágio do tempo que corre.
No dia de hoje, habitualmente dedicado às concertinas durante as Feiras Novas, foi apresentado um livro sobre Zé Cachadinha, um dos tocadores de concertina que mais se distinguiu nos últimos anos.
A apresentação pública decorreu hoje, pelas 17 horas, no Teatro Diogo Bernardes e esteve a cargo de Alvaro Campelo, que dissertou sobre o cantador e a arte do improviso da cantoria.
“Zé Cachadinha, o cantador do Povo” é o título do livro enquadrado na chamada literatura de cordel, que pretende homenagear o cantador ao desafio.
O livro reproduz o versejar das cantorias de improviso que animavam festas e romarias ao som das concertinas.
Para o professor, o cantar ao desafio é uma forma de “trazer para o terreiro o viver do povo”. As cantorias “nascem em plena festa”, são “canções de tasca e de festa” para as quais Zé Cachadinha tinha uma aptidão como poucos.
Alvaro Campelo referiu-se a Zé Cachadinha não só como um limiano que levou o nome de Ponte de Lima bem longe com as suas cantigas, mas também como uma referência na etnografia nacional.
O livro é da autoria de Augusto de Oliveira Gonçalves, sobejamente conhecido como Augusto Canário no mundo da música popular portuguesa.
A obra agora apresentada representa um trabalho iniciado numa altura em que Zé Cachadinha ainda era vivo. Augusto Canário deu-lhe a conhecer o projecto, tendo Cachadinha ficado muito agradado com a ideia de ver registado em livro um pouco da sua história pessoal.
Segundo Augusto Canário a sua literatura de cordel não vai parar por aqui, estando prevista a edição de mais livros para “recordar cantadores e cantadeiras para que a memória perdure no tempo”.
Os tempos em que as pessoas iam à festa e levavam para casa aquilo que ouviam é já passado. Hoje a transmissão já não é só oral, pois temos vários suportes para registar para o futuro. E, para Augusto Canário, este livro é exemplo disso.
Victor Mendes, presidente da Câmara Municipal de Ponte de Lima, referiu-se ao homenageado como um “cantador do Povo e para o povo”, que aliás se entrecruza com a essência das próprias Feiras Novas.
“Estamos hoje aqui a homenagear seguramente um dos grandes ícones do que ao património cultural e imaterial diz respeito do nosso concelho da nossa região”, referiu Victor Mendes.
Desaparecido em 10 de junho de 2019, em acidente rodoviário, Zé Cachadinha não caiu no esquecimento. O Município de Ponte de Lima declarou um dia de luto, na altura do seu desaparecimento, e agora perpetua a sua memória com a edição deste livro.