Terça-feira, Dezembro 3, 2024

Ano 115- Nº 4979

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OPINIÃO | As histórias

Hélio Bernardo Lopes

A História dos acontecimentos de que participam os seres humanos é variada, mesmo quando trata acontecimentos que sejam os mesmos. As causas, claro está, são facilmente reconhecíveis, e numa situação de muito maior unanimidade interpretativa que a dos acontecimentos historiados. Isto mesmo pode encontrar-se no caso da recente grande batalha da Ucrânia. E é por estar esta em curso de desenvolvimento que aqui se elenca um conjunto de factos que há muito merecem qualificações distintas em função dos grupos político-ideológicos que os expõem e tratam.

INVASÕES MÁS

No domínio da grande comunicação social ocidental tivemos um boom número de invasões más, muito em especial no Século XX. Portanto, vejamos algumas delas.

Em primeiro lugar, a invasão da Hungria pelas tropas do extinto Pacto de Varsóvia, ou seja, à luz da vontade dos dirigentes políticos da extinta União Soviética.

Como teria de dar-se, esta invasão foi logo apontada como má, sendo, ainda hoje, assim ventilada, sobretudo quando se pretende, em Portugal, criticar o direito à existência do PCP, situação hoje em franco curso de desenvolvimento.

Em segundo lugar, a invasão da Checoslováquia, e por razões em tudo similares às da anterior invasão. Tendo sido operada por tropas do Pacto de Varsóvia, passou logo a ser uma invasão má.

E, em terceiro lugar, a invasão do Afeganistão pelas tropas da extinta União Soviética. Uma verdadeira invasão, mas que se mostrou má para o próprio invasor. Sem ser por acaso, nunca se refere que a organização político-social deixada pela presença soviética se mostrou civilizacionalmente muito superior à dos talibãs, chegando mesmo a manter-se por quase um quinquénio e meio, se não me falha a memória. Portanto, mais uma invasão má na apreciação ocidental.

INVASÕES BOAS

Mas se as anteriores invasões foram más a Ocidente, já diversas outras foram excelentes: precisamente as operadas sob o comando dos Estados Unidos, legal ou ilegalmente.

Em primeiro lugar, a Guerra do Vietname, que durou um tempo infindo, e que deixou centenas de milhares de mortos e feridos. E isto no Vietname, no Laos e no Camboja. No Ocidente, contudo, foi uma invasão perfeitamente aceitável, dado ser operada pelos Estados Unidos. Nem um ínfimo de preocupação institucional se tornou percetível.

Em segundo lugar, a invasão do Panamá, operada pelo Exército dos Estados Unidos, sob o argumento de deter Manuel António Noriega, à luz de ser um cartelista do tráfico de estupefacientes. Sendo esta acusação uma realidade, a verdade por detrás deste acontecimento foi uma outra…

Em terceiro lugar, a invasão de Granada, igualmente operada pelos Estados Unidos, a fim de destituírem o líder comunista que havia sido democraticamente eleito. A verdade é que este acontecimento não mereceu nenhuma intervenção institucional domínio público internacional.

Em quarto lugar, a fabulosa Guerra do Iraque, baseada na execrável mentira das armas de destruição maciça, mas que se sabia não existirem. O pior a que se chegou foi a uma barulheira de duração muito limitada. No plano do Direito Internacional Público, pois, nada…

E, em quinto lugar, a invasão do Afeganistão pelos Estados Unidos, liderando a sua OTAN, acabando por deixar no poder do país os… talibãs!! Enfim, surgiram comentários televisivos.

ATENTADOS BONS

Em primeiro lugar, os atentados liderados pela OTAN no âmbito da sua estratégia de tensão, destinada a criar a insegurança nos europeus, em plena vaga do surgimento do eurocomunismo e do descalabro da Guerra do Vietname. Atentados que tiveram lugar em Milão e, se não me engano, também em Bruxelas, e em que o primeiro se saldou por dezenas de mortos.

Em segundo lugar, as infindas tentativas para assassinar Fidel Castro. Tentativas reveladores de uma mistura de ignorância, fanatismo, velhacaria e incompetência. Tentativas de homicídio que envolveram uma colaboração ativa entre autoridades norte-americanas e máfias do país.

Em terceiro lugar, o esboço da ideia de atentado contra De Gaulle, quando a CIA descobriu que a França estava a trabalhar na sua bomba nuclear. Uma ideia que ficou pelo caminho, por via de surgir, mau grado tudo, algum bom senso em alguém com poder.

Em quarto lugar, o homicídio de Patrice Lumumba, que quase todos sempre atribuíram à CIA. A verdade é que ninguém, por toda a parte do mundo, se preocupou em tentar explicar o que se passara. Havendo sobre tudo o que é histórico-político estudos os mais diversos, a verdade é que ninguém se preocupou, no Ocidente, em abordar a causa de tal homicídio.

Em quinto lugar, a morte do Secretário-Geral das Nações Unidas, Dieg Hammerskiold, precisamente ao redor do que se passava no Congo e com Lumumba. Sendo um defensor do acesso dos africanos à autodeterminação, e sendo Lumumba quem estava no caminho do poder, percebe-se a quem poderia interessar, primacialmente, o seu homicídio. Restou, portanto, o silêncio sobre o caso.

Em sexto lugar, o homicídio de Aldo Moro, supostamente às mãos das Brigadas Vermelhas. O que nunca é escalpelizado são as ligações íntimas desta estrutura à CIA e às principais secretas europeias…

E, em sétimo lugar, o atentado de Camarate, hoje plenamente exposto na magistral e silenciada obra de Alexandre Patrício Gouveia, OS MANDANTES DO ATENTADO DE CAMARATE. Um caso que mostra bem o modo cobarde de fazer política em Portugal, apesar de por aí se apregoar sempre, aos sete ventos, que vivemos num Estado de Direito Democrático. A verdade é que aí temos já o tal acórdão do Tribunal Constitucional, que se irá tornar numa mina para a grande criminalidade ao nível dos reais detentores de poder.

ATENTADOS MAUS

Bom, são todos os assim considerados pelos Estados Unidos, ou pelos restantes Estados de si dependentes.

Com este texto breve, naturalmente muito limitado, pretendi fornecer ao leitor esta evidência: em política, o bom e o mau dependem de quem aprecia os factos. E esta apreciação, invariavelmente, depende dos grandes interesses nacionais em causa. Mas a verdade dos mesmos só consegue ser construída por via da ação da grande comunicação social, ela também dependente dos respetivos proprietários, que estruturam um conjunto de trabalho com determinadas caraterísticas pretendidas.

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