Ao longo dos anos, mesmo décadas, o leitor tem escutado a referência à dita comunicação social livre, supostamente praticada nas designadas democracias ocidentais. De tanto tal conversa ser repetida, a verdade é que esta errada ideia acabou por assentar arrais na superficial atenção da enorme maioria das pessoas. Uma ideia errada, que voltou a ser brandida em mil e um comentários surgidos nas nossas televisões, agora que se vem desenrolando a grande batalha da Ucrânia. Por via desta realidade, deixo aqui hoje alguns exemplos de sepulcrais silêncios ao redor de temas candentes, uns mais antigos, outros mais do nosso tempo.
01 – O homicídio de John Kennedy, falsamente explicado através do Relatório Warren, encontra-se envolto num manto de silêncio, realmente nunca abertamente tratado nos mil e um documentários que vão surgindo em canais televisivos os mais diversos. Portanto, olhemo-lo agora um pouco.
Após as eleições, em que foi proclamado vencedor, Richard Nixon, o perdedor, constituiu advogado e introduziu um processo por fraude eleitoral. Nixon viera a saber que o velho pai Kennedy contratara com Sam Giancana a referida fraude eleitoral, conseguida por via de ameaças e exigências sobre os grandes eleitores em dois ou três Estados. No fundo, toda a gente com poder soube do que se passou, mas era preciso manter as aparências institucionais. Assim, quando faltava perto de um mês para a tomada de posse – creio que menos de um mês –, Nixon lá se viu obrigado a retirar a queixa. É desta realidade, a nós contada em livro por Sam Giancana – sobrinho do velho líder da Máfia –, que nunca um qualquer documentário televisivo surgiu. Toda a gente sabe, mas nunca se fala do tema. No entretanto, a família Kennedy foi sendo destruída ao longo das gerações.
02 – Outro caso muito célebre foi o da morte de João Paulo I. É um tema extremamente tratado na literatura, e sempre de um modo convergente. A inultrapassável estranheza está no facto de não ter o Vaticano ordenado uma autópsia, dadas as circunstâncias em que havia ocorrido aquela morte. Imagine o leitor um caso similar, mas com um dos nossos Presidentes da República. Acredita que não teria lugar uma autópsia? Claro que não! A verdade é que o tema nunca surge num qualquer documentário.
03 – Um outro caso é o do homicídio de Francisco Sá Carneiro e de Adelino Amaro da Costa. Seria natural, depois da publicação de OS MANDANTES DO ATENTADO DE CAMARATE, de Alexandre Patrício Gouveia, que um dos nossos canais televisivos se determinasse a realizar um documentário capaz, pormenorizado, sobre o que se contém naquela obra. A verdade, porém, foi que caiu sobre a mesma um fantástico manto de silêncio.
04 – Dentro dos casos mais recentes, temos o dos gasodutos, destruídos no Báltico. Recentemente, um conhecido jornalista norte-americano de investigação deu a conhecer que o relatório sueco concluiu que foi a Marinha dos Estados Unidos a operar a referida sabotagem. Em Portugal, todavia, para lá de tangentes ao tema, em geral pela voz de um ou outro comentador, dos jornalistas o que sobreveio foi o silêncio.
05 – Por fim, aquele homicídio de um dos negociadores ucranianos, logo ao início das conversações com a equipa russa de negociadores. Sabe-se agora que foi assassinado e até, por reconhecimento do próprio, quem foi o assassino. Todavia, dos nossos jornalistas não surge uma palavra, muito menos um documentário capaz.
Poderia escrever aqui um verdadeiro livro sobre casos deste tipo, todos mostrando como a dita comunicação social livre do Ocidente não passa de uma trapaça. Diariamente, o que nos surge nos ecrãs são histórias sobre o Presidente Vladimir Putin, sempre apresentado como um malandrim. Até o derrube do tal avião malaio