Quarta-feira, Dezembro 4, 2024

Ano 115- Nº 4979

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OPNIÃO | Coragem e clareza

Com um mínimo de espanto, pelo inesperado da situação – estamos em Portugal…–, foi como ontem me senti ao acompanhar o comentário do major-general Vítor Viana na CNN Portugal, pouco depois da meia-noite. Não sendo, ao nível da maior parte dos nossos comentadores militares, uma novidade absoluta, a verdade é que este nosso oficial-general se viu na necessidade de referir que o que ia dizer poderia suscitar alguma má vontade.

A dado passo, o major-general salientou que uma solução para a grande batalha da Ucrânia só poderá ser conseguida por via de conversações entre a Rússia e os Estados Unidos. E teve aqui toda a razão. Ele – não é a primeira vez que refere este ponto de vista evidente –, mas também Agostinho Costa e Carlos Branco, seus colegas. Talvez mesmo o coronel Carlos Mendes Dias, embora não recorde agora esta situação com garantia.

Como muitíssimo bem referiu o major-general Vítor Viana, a Ucrânia constitui um palco em que se dirime o conflito entre os Estados Unidos e a Rússia. Um conflito alimentado pelos primeiros desde a violação do acordo honroso estabelecido entre James Baker III e Gorbachev, ao tempo da reunificação alemã, e a cuja luz os Estados Unidos não expandiriam a sua OTAN para junto das fronteiras da URSS do tempo.

O grande problema de Gorbachev esteve em nada saber da defesa das antigas províncias ultramarinas de Portugal, com os Estados Unidos a garantirem ao Governo do País que não vinham recebendo Holden Roberto em Washington, mas fazendo-o, de facto, com o falso nome de José Gilmore.

Gorbachev nunca terá percebido que os acordos com os Estados Unidos só valem enquanto a estes convier. Os recentes casos da Venezuela e da Arábia Saudita mostram isto mesmo: nunca se pode confiar na palavra política dos Estados Unidos. Para já não referir os homicídios de Francisco Sá Carneiro e Adelino Amaro da Costa, ou o crime de alta traição da equipa da candidatura de Ronald Reagan, com o pedido para a continuação dos membros da embaixada em Teerão sob detenção criminosa, com a posterior negociata de armas com o Irão através de… Israel.

Infelizmente, o major-general Vítor Viana, apesar desta sua coragem e da clareza da sua exposição, já não pôde exprimir que a tentativa de fazer renascer a paz não é possível porque os Estados Unidos estão apostados, e desde há muitíssimo, em desmantelar a Rússia, a fim de fazerem nascer novos Estados, corrompendo depois os seus dirigentes, e explorando os recursos que existem nesses territórios imensos.

Enfim, foram momentos de grande coragem e de enorme clareza. Um pouco como o que se passou, há dias, com o nosso embaixador Fernando d’Oliveira Neves.

 

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