Quinta-feira, Novembro 21, 2024

Ano 115- Nº 4976

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Chegar aos 100 anos de idade não é para todos!

Avelino Castro

DIRECTOR

Sobejamente conhecido no meio limiano, Álvaro de Sousa e Castro festejou no passado dia 13 de Maio a sua centena de anos.

A idade só lhe trouxe mais peso na coluna, alguma curvatura na sua posição, também mais dificuldade em andar, mas não lhe tirou a boa disposição. E essa boa disposição começa logo pela sua data de nascimento. É que Álvaro não se cansa de dizer que tem dois dias para comemorar o seu aniversário. E na verdade tem: o dia 13 de Maio, dia em que realmente nasceu, e o dia que consta no seu cartão de cidadão, dia 15 de Maio.

Nascido na freguesia de Arcozelo, em Ponte de Lima, o agora centenário sempre diz que o pai demorou  dois dias a chegar à vila para registar o registar nos serviços da Conservatória.

Na verdade esse atraso a registar o filho dava direito a uma multa, pelo que o seu pai acabou por registá-lo como tendo nascido no dia em que foi à vila para esse efeito, o dia 15.

Agora, volvidos 100 anos e ainda “estar aí para as voltas”, é que não é para todos.

Senhor de uma brincadeira refinada e de uma seriedade extrema, Álvaro de Sousa e Castro, cedo começou a trabalhar. Foi aos 12 anos que rumou para Viana do Castelo, pela mão de seu pai que o deixou à confiança de seu irmão Vicente Castro, chefe de Polícia de Segurança Pública de Viana do Castelo.

Alvaro Castro na altura não sabia bem ao que ia, mas reparou que correram lágrimas no rosto do pai. E estranhou. Mal ele sabia que ali se iria dar início a uma nova etapa da sua vida.

O tempo foi passando e inúmeras vivências e peripécias vividas foram amadurecendo a pessoa que ainda hoje é.

O seu tio, Vicente Castro, à frente do comando da PSP de Viana do Castelo, não era de todo um “situacionista”, antes pelo contrário. Viu seu irmão, pai de Álvaro, ser preso só porque ajudava a recolher fundos para as mulheres dos presos políticos e, sempre que podia, o Chefe Vicente dava o seu contributo às causas da liberdade.

Certo dia, ao comando da PSP de Viana do Castelo, chegou uma mensagem às mãos do Chefe Vicente, que, perante a gravidade do assunto, decidiu tomar medidas. Os políticos tinham mexido os seus cordéis e havia sido emitido um mandato para prender o Dr Cruz, de Ponte da Barca, pelo raiar do sol do dia seguinte.

Perante isso, Vicente decidiu enviar um emissário a Ponte da Barca para o avisar da necessidade de fugir daquele local, senão seria preso.

Para a execução da tarefa foi “requisitada” a bicicleta de Álvaro. Maior do que ele próprio, aquela bicicleta era sinónimo de liberdade, mas que então era solicitada para uma tarefa nobre.

Montado naquela bicicleta lá foi um emissário a Ponte da Barca levar a novidade. Muito pó e muita pedalada depois, eis que o emissário chega a Ponte da Barca, atravessa a ponte e apressa-se a transmitir a mensagem ao Dr. Cruz. Este, sem hesitação, escapuliu-se, enquanto nessa mesma altura, pela porta da frente, já chegavam as forças da autoridade para as devidas diligências.

Foram infindáveis as viagens que essa bicicleta fez entre Ponte de Lima e Viana do Castelo, numa altura em que a estrada que ligava a vila limiana àquela cidade pouco mais era do que um caminho poeirento. De recordar que o transporte coletivo ainda se fazia com carro de cavalos, em fase de transição até às “camionetas do Cura”.

Tantos anos volvidos, Álvaro regressou a Ponte de Lima e, para além de uma aprendizagem na Escola Comercial de Viana o Castelo, trouxe com ele a bicicleta, que acabaria por ser minha, muitos anos depois.

“Trabalhou ao balcão” no estabelecimento de António Barros e, mais tarde, iniciou o seu próprio negócio no ramo alimentar.

Aos 40 anos casou-se com Maria Carolina Dantas Soares Guimarães e, após a morte de Avelino Pereira Guimarães, seu sogro, o casal passou a gerir o Jornal Cardeal Saraiva, a Tipografia e Papelaria Guimarães, que eram propriedade da família, situados em pleno Largo de Camões, em Ponte de Lima.

Álvaro Castro não se cansa de elogiar as qualidades do sogro, o seu aspeto altruísta e de bom homem. E repete que um homem tão bom devia ter uma homenagem à altura.

Recorda frequentemente o dia em que viu uma criança entrar pela Papelaria e pedir esmola ao sogro, o que era habitual.

Nessa altura, o sogro abriu a gaveta do dinheiro e, porque estava vazia, disse à criança para esperar que viesse um cliente.
Quando o primeiro cliente veio, e já depois de finalizada a compra, Avelino Guimarães não quis receber o pagamento. Virou-se para o cliente e disse-lhe para entregar o dinheiro à criança.

Álvaro de Sousa e Castro, e Maria Carolina Dantas Soares Guimarães, já falecida, deram continuidade ao legado de Avelino Guimarães e são, por isso, dois nomes para sempre ligados ao jornal Cardeal Saraiva.

Durante anos o casal foi a face visível desta instituição com 110 anos de existência e a ela dedicaram a sua vida.

Ainda hoje Álvaro de Sousa e Castro é um elemento presente, fazendo parte da “equipa” deste jornal, que agora lhe endereça os votos de parabéns nesta data tão bonita.

Parabéns Álvaro!

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