Quarta-feira, Dezembro 4, 2024

Ano 115- Nº 4979

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A pobre realidade

 

AVELINO CASTRO . diretor

Os professores estão na rua pela luta dos seus direitos. É uma luta com forte motivação e grande envolvência daqueles profissionais.

A primeira realidade a constatar é que a luta é justa. Desde a deslocação da sua área de residência para trabalhar até à dificuldade em progredir na carreira.

Uma segunda realidade é perceber que são os professores que nos trazem o conhecimento, que nos despertam para a vida e nos fornecem as “armas” do conhecimento.

Uma terceira constatação é percebermos que a democracia para determinada população é uma questão meramente retórica. Os professores têm capacidade de mobilização e poder económico para o fazer. É esta capacidade de mobilização que obriga os governos a ter que os ouvir e ceder.

Enquanto isso, grande parte da população vive no limiar da pobreza, fica calada, não se manifesta e não faz greve porque o dinheiro que ganha por mês é tão magro que não se pode dar ao luxo de não trabalhar uma hora que seja.

Ontem, António Costa disse uma vez mais aquilo que já se percebe há muito: não há dinheiro para tudo.

(Calma, leitor, já vamos ao que está a pensar!)

António Costa tornou público que é impossível repor as regalias pelo tempo de serviço dos professores. Se avançasse com o pretendido pelos professores tal representaria um acréscimo definitivo da despesa pública em 1300 milhões de euros anuais.

Segundo o Primeiro-ministro tal seria insustentável. E eu acredito.

É então que os professores nas ruas gritam a outra verdade: há dinheiro para salvar bancos, mas não há dinheiro para salvar a Educação.

E não foi só um banco, foram quatro! Mas também não foram só bancos: foi a PT, foi a EDP, foi a TAP (que agora trava a fundo e volta atrás) …

O mais engraçado de tudo isto – que não tem piada nenhuma – é o facto de os políticos terem sempre uma forna de justificar tudo isto. Quais sofistas mumificados!

Felizmente alguns casos têm sido desmascarados na imprensa, mas também por Rui Pinto, o especialista informático que, afinal, está a contas com a justiça.

Perante tão graves casos relatados, e mesmo na justiça, quantos políticos foram condenados? Quantos foram responsabilizados por gestão danosa do bem público?

Mas regressemos aos professores e, para que não restem dúvidas, concordo com as suas reivindicações, porém, existem perguntas para as quais gostava de ter uma resposta à altura.

Os professores hoje sentem-se fartos de serem “roubados” e desrespeitados e, por isso, estão nas ruas com força nunca vista. Acreditam que dinheiro não falta para cumprir as suas reivindicações.

Mas, afinal onde estavam os professores quando se desmantelou a PT? E quando se vendeu a EDP aos chineses -que recuperaram o investimento em curto espaço de tempo-; quando Passos Coelho foi a Angola entregar o BPN, quando a EDP habilidosamente vendeu barragens sem pagar IMI, quando os próprios deputados da Assembleia da República em tempos difíceis aumentaram os seus salários; quando todos os dias se pagam reformas milionárias vitalícias aos deputados…?

Eu sei onde estavam. Estavam no conforto da sua casa, sempre disponíveis para demonstrar a sua indignação por serem maltratados pelo Ministério da Educação, mas nada disponíveis para lutar contra a pobreza que cresce em Portugal, contra a triste sina de grande parte da população que trabalha para pagar despesas, contra as reformas miseráveis dos reformados que, ao final do mês, contam os cêntimos para que possam pagar a mercearia, a farmácia e o táxi que os levará ao médico da vila…

Em números redondos, Portugal tem 132 mil professores e 4,4 milhões de pessoas em situação de limiar da pobreza. Para além da disparidade destes números e da qualidade de vida de cada um, a primeira diferença visível entre eles é que os professores protestam na rua e os outros, a maioria, estão conformados e sem força para lutar. Estes continuarão pobres, mas o país sem professores seria também um país pobre.

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