Continua o lamentável espetáculo com Agostinho Costa
Há muito salientei o lamentável espetáculo que se aplica em certos programas da CNN Portugal, onde o nosso Major-General Agostinho Costa é tratado, um pouco, como uma espécie de saco de boxe. Precisamente, o que há uns dois ou três dias teve lugar, num cenário moderado por Ana Sofia Cardoso, e em que também estiveram presentes Francisco Seixas da Costa e Diana Solller.
A dúvida está em saber quando é que um tal espetáculo não tem lugar, dado que, à luz da minha memória, esta vem sendo uma lei empírica muito forte. Mais: chegam a ser expostos argumentos que nada têm que ver com o que foi dito pelo nosso mui prestigiado militar. Enfim, e como eu costumo dizer, temos a democracia…
Este tipo de programas vem mostrar, e à saciedade, como assistia a Aníbal Cavaco Silva, já lá vão décadas, a mais cabal razão na recusa que aplicou à ideia de debates a dois com Jorge Sampaio, era este o líder do PS ao tempo. Pleno de razão, Cavaco logo explicou a sua recusa em participar em tal tipo debates, dado serem estes autênticos marcos de política-espetáculo. E assim voltou há pouco a fazer Pedro Nuno Santos, numa decisão acertadíssima.
Hoje, pelo que se vai vendo, parece não se ter uma ideia mínima de que este tipo de programas-espetáculo estão a ser um dos principais fatores de descrédito da própria democracia. De resto, é isto que se passa com o modo como é praticada a generalidade da grande comunicação social. Seria muito bom, pois, que na campanha que se aproxima para cada uma das eleições deste ano se opte por aquela corretíssima receita de Cavaco Silva: façam-se entrevistas, com mui ligeira participação dos entrevistadores, mas em que cada um dos entrevistados, dos diversos partidos, exponha o programa eleitoral correspondente. Sobretudo, no modo de atuar nas áreas essenciais do Estado Social, que é o que realmente interessa aos portugueses. E evite-se o debate, moralmente inútil e podre, sobre casos e casinhos, porque os portugueses estão fartos de um tal tipo de política-espetáculo. É um domínio em que vale, por todos, o histórico argumento de Aníbal Cavaco Silva.
Finalmente, o tal programa da CNN Portugal, em que estiveram, como convidados, o Major-General Agostinho Costa, Francisco Seixas da Costa e Diana Soler. Bom, a meu ver, e no de tantos conhecidos que o visionaram, foi mais um programa-espetáculo. E sempre com o nosso militar a ser usado como uma espécie de saco de boxe. Objetivamente, já cansa e, até, de um modo enfadonho. Mas recordemos um pouco o que se passou.
Em primeiro lugar, Ana Sofia Cardoso, começa sempre por Agostinho Costa, o que tem como consequência que nunca é este o último a falar. É um técnica que vem nos livros…
Em segundo lugar, custa entender que não se perceba que o Irão é quem não tem um ínfimo de interesse em ver-se metido em toda esta barulheira, ali criada pelo Hamas e por Israel.
Em terceiro lugar, custa ainda mais não entender que Israel tem um interesse absoluto em envolver o Irão nesta contenda. Portanto, desta situação resulta o que se evidencia a cada um, mesmo sem ser general ou embaixador.
Em quarto lugar, Seixas da Costa, com grande assertividade, explicou já que Israel pode fazer o que quiser.
Em quinto lugar, o que se passou no tal funeral conveio a Israel, por saber que pode fazer o que quiser e porque lhe conviria sempre uma resposta do Irão, a fim de poder criar mais um direito de se defender…
Em sexto lugar, mesmo tendo sido uma ação de Israel, o Irão tem de não o reconhecer, ou lá se veria na obrigação de atuar ou comer e calar.
E, em sétimo lugar, o facto de ter o atentado apresentado caraterísticas inusuais na ação israelita, tal não impede que tenha sido Israel a praticar o ato, porque a fazê-lo, teria de ser de um modo disfarçado, ou seria ainda mais condenado.
Ora, de tudo isto, custa entender a posição assumida por Francisco Seixas da Costa, sendo-me razoável perguntar: o que é que Francisco não percebeu nisto tudo, que foi o exposto pelo Major-General Agostinho Costa?
Aproveito esta oportunidade para convidar – é um modo de falar – o nosso embaixador a consultar, na Biblioteca Nacional, o Diário de Notícias desde o ano em que surgiram os LOBOS CINZENTOS, de que Ali Agka foi membro. Sabendo-se, a menos de um mínimo de dúvida, que a CIA teve no surgimento deste grupo uma mão – consulte-se a Wikipédia –, ver-se-á que só se fala em Lobos Cinzentos a propósito da intervenção de Ali Agka na Praça de São Pedro. Nunca mais se voltou a falar de tal grupo… E assim se passa com o Estado Islâmico. Pois, não é verdade que o Presidente Vladimir Putin denunciou publicamente que cerca de seis dezenas de Estados ocidentais adquiriam petróleo a esta última estrutura, o que provocou a ira desses ocidentais? Portanto, porquê continuar a mostrar dúvidas…?
Por fim, algumas notinhas. Por um lado, seria excelente – ouro sobre azul – que não transformassem o programa numa sucessão de interrupções de uns sobre o discurso dos outros. E depois, que a moderadora não conceda todo o grau de liberdade a Francisco e Diana, pedindo com força que o nosso militar dê a palavra aos outros!!! E comece sem ser pelo Major-General Agostinho Costa, deixando-o ser quem acaba o programa. E atenção: a democracia, com programas deste quilate, está-se, progressivamente, a desagregar. Também como com o Porto Kopke, com programas destes à vista, não democracia que resista.